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19/12/2023

Circularidade que inspira, cria oportunidades e transformas vidas

Por Arlene Carvalho, do Movimento Circular

Considere a equação: jovens estudantes ansiosos para descobrir novas oportunidades + educadores que incentivam seus alunos a explorar, e experimentar, a ciência para além das paredes da sala de aula + desafios duradouros na comunidade que sempre aguardaram soluções + a aplicação do conceito de Economia Circular. Qual é o resultado? O projeto mais circular da América Latina!

Estamos falando do vencedor do 1º Prêmio Por Um Mundo Sem Lixo Internacional, cuja final ocorreu no início do mês. Este projeto originou-se diretamente do Nordeste do Brasil e visa enfrentar a seca em regiões onde a água é escassa. Intitulado "Sistema de Coleta e Armazenagem de Água da Chuva a partir de Materiais de Baixo Custo: uma Alternativa de Combate à Seca no Semiárido Nordestino", o projeto é de autoria da estudante Vitória Sabrina da Silva Leite e do professor Antônio Serginaldo de Oliveira Bezerra, ambos da Escola Estadual Monsenhor Raimundo Gurgel, em Mossoró, Rio Grande do Norte.

A iniciativa abrange ciências agrárias, circularidade e engenharia, e resume-se em uma cisterna de baixo custo que coleta e armazena água da chuva durante períodos de estiagem no semiárido nordestino, sendo construída com materiais reutilizados e/ou de baixíssimo custo.

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E como surgiu toda essa ideia?

Para a estudante de 18 anos, que está finalizando o Ensino Médio, vencer o Prêmio Por Um Mundo Sem Lixo Internacional foi o ponto alto de toda uma construção de três anos de estudo. “Quando entrei no ensino médio, meu professor começou a me incentivar a fazer projetos. Eu sempre achei que fazer ciência era algo muito difícil, mas a ciência está em tudo”, afirma.

Foi com esse pensamento que eles criaram o projeto que levou para casa a premiação inédita do Movimento Circular. “Nosso primeiro projeto criou um piso tactel com vidro e plástico reciclado, mas quando finalizamos esse trabalho, meu professor, o Antônio Serginaldo, sugeriu que fizéssemos outra pesquisa - algo que fosse diferente”, conta Vitória Sabrina.

“Não houve nenhuma seca mais rígida que o normal e nem nada para nos dar a ideia do projeto. Mas a seca é algo que a gente aqui no semiárido vive desde sempre. É uma realidade que a gente passa aqui, que meus familiares e familiares do meu professor já passaram e passam ainda com muita frequência”, relata. Segundo Vitória, pensar nisso foi o pontapé inicial para que ela começasse a pesquisar e pensar em soluções para trazer água para quem precisa no semiárido.

"Nós queríamos inovar e abordar uma realidade cotidiana frequentemente negligenciada. Nas minhas pesquisas, observei que de 2019 a 2022, houve uma redução significativa nos investimentos para as pessoas do semiárido - um corte de milhões de reais. Isso deixou muitas pessoas desamparadas, elevando o alerta. Era hora de ampliar nossa visão e atenção para essa questão crucial. E foi aí que começamos a pensar e montar o viria a ser o nosso projeto”, conta a jovem.

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A própria Vitória reconhece que colocar a mão na massa foi uma das melhores coisas do projeto. Imagem: Reprodução/Acervo Pessoal

O projeto começou a ser realizado em 2022 e foi implantado num assentamento da comunidade de Pedra Branca, também em Mossoró - onde vivem cerca de 38 famílias. Em três moradias, eles instalaram o sistema - que segundo a estudante e idealizadora, tem duração indeterminada, mas deve passar por uma “manutenção” em cerca de um ano.

“Depois que a água for armazenada e as chuvas passarem, o buraco que cavamos pode ser utilizado como um reservatório de água. No entanto, quando esse reservatório secar - que deve ser mais ou menos às vésperas do período chuvoso recomeçar, é importante analisar o estado da lona, das caixas de leite, de todos os materiais. É importante saber se tem algum material que precisa ser trocado etc”, explica Vitória.

A água ainda não é filtrada, sendo assim, não é indicada para consumo direto. No entanto, pode ser utilizada para diversas atividades cotidianas, como lavar pratos, cozinhar, regar plantações e realizar outras tarefas domésticas que não envolvam ingestão.

Para quem precisa, é muito importante o fato do sistema ser de baixo custo, isso exemplifica a necessidade de ampliar o olhar sobre as realidades não visíveis. Se você não tem água, algo tão básico, como vai poder gastar muito para ter acesso a esse item?”, destaca a estudante.

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Vitória e o orientador, Serginaldo na Febrace 2023. Imagem: Reprodução/Acervo Pessoal

O que diz o orientador da iniciativa?

Quando questionado, o professor Antônio Serginaldo comenta sobre o projeto. “No desenvolvimento, Vitória já tinha essa noção de que queria trabalhar com algum material reciclável. Fomos observando as problemáticas que nós tínhamos no nosso cotidiano, e ela conseguiu unir o problema da falta de água aqui com uma questão ambiental, no caso, o alto descarte das antenas parabólicas de forma incorreta”, explica.

Para Serginaldo, a união dessas problemáticas contribuiu para que o trabalho fosse direcionado para os problemas das pessoas daquela região, além de fazer o uso de materiais que já são descartados na área. Para ele, trabalhar com Vitória foi uma experiência muito boa. “Ela é uma aluna muito dedicada nos estudos, então, trabalhar com ela foi algo gratificante porque ela se doa muito aos projetos”, comenta.

A Economia Circular não era algo novo para o professor; no entanto, também não era algo frequente. “Tinha ouvido falar sobre Economia Circular, mas nunca me aprofundei até os encontros após a Febrace despertarem meu interesse”. A partir disso, Serginaldo, que é professor de Sociologia, buscou sempre integrar o tema em suas aulas, trazendo-o para o cotidiano da disciplina. Ele comenta, também, sobre as possibilidades que o Prêmio Por Um Mundo Sem Lixo trouxe.

“O prêmio não apenas responsabiliza a abordagem da Economia Circular, mas também impacta minha carreira, pois compartilho isso com meus alunos. Tenho certeza de que a Sabrina, em seu dia a dia, também contribui para esse crescimento em uma escola onde isso era pouco discutido. O prêmio foi transformador, introduzindo esse tema em nossos conteúdos de sala de aula. Agradeço ao Movimento Circular, que, além da premiação, proporcionou resultados significativos, enriquecendo as discussões sobre esse tema com os jovens de nossas escolas públicas”, relata.

“O prêmio em si foi algo fantástico. Quando nós ganhamos a etapa nacional na Febrace, já estávamos bem felizes pelo fato de estar trazendo para o nosso Estado um prêmio muito importante. E quando a gente ganhou a etapa internacional, a nossa escola ficou em festa, porque é o primeiro prêmio internacional que nós conseguimos. E a importância, como a própria Sabrina falou, que o prêmio traz uma responsabilidade, que é a responsabilidade do cuidado com o meio ambiente, de se preocupar com as questões ambientais. Então, foi algo incrível. Eu não consigo, até hoje, descrever o quanto isso foi e é importante, tanto para mim, como professor, quanto para ela, que é uma estudante”, finaliza a entrevista.

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O reconhecimento do projeto. Imagem: Reprodução/Acervo Pessoal

Pensando e fazendo Economia Circular antes de saber o que é…

A vitória do projeto "Sistema de Coleta e Armazenagem de Água da Chuva a partir de Materiais de Baixo Custo" no 1º Prêmio Por Um Mundo Sem Lixo Internacional destaca-se como uma conquista exemplar da Economia Circular e demonstra que, mesmo antes de compreender totalmente o conceito, a aplicação prática do termo é algo que pode gerar mudanças significativas e inspiradoras.

“Eu nem sabia que estava contribuindo para a Economia Circular até conhecer o Movimento Circular na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace)”, comenta Vitória. De acordo com ela, “cada momento foi uma construção, um alicerce para seu crescimento pessoal e profissional. Participar da Febrace e conhecer o Movimento Circular não apenas me deu a chance de compartilhar ideias, mas também de alimentar a esperança de que posso contribuir de maneira significativa para o mundo ao meu redor”.

O projeto da estudante incorpora materiais reutilizados e de baixíssimo custo, apresentando uma solução sustentável e acessível para um problema real e grave. A vitória na premiação marca a integração da Economia Circular na educação e destaca o potencial impacto positivo dessa abordagem em diversas áreas da sociedade.

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Vitória via as antenas parabólicas sem uso e se perguntou “por que não utilizá-las?”. Imagem: Reprodução/Acervo Pessoal

“Agradeço a cada pessoa, a cada experiência que moldou essa jornada. Estou muito ansiosa para explorar novas oportunidades e continuar a crescer, levando adiante o espírito inspirador que a Febrace me trouxe e que o Movimento Circular reforçou. Você acredita que ainda estou na dúvida sobre o que fazer na faculdade, por causa de tudo isso? Sempre pensei em fazer psicologia ou pedagogia, mas hoje eu penso também em engenharia, etc.

As oportunidades que se apresentam para Vitória são fruto desse comprometimento contínuo com o aprendizado e a inovação. O reconhecimento internacional recebido pela jovem é uma celebração desta inovação como um compromisso renovado com práticas circulares.

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