O que é Economia Circular?
Há séculos, estamos inseridos em um modelo econômico linear, baseado no ciclo de "extrair, produzir, consumir, usar e descartar". Mas será que esta lógica pode se manter a longo prazo?
O modelo linear tem nos levado a um cenário de policrises socioambientais, marcado pela mudança climática, degradação ambiental, perda de biodiversidade, desigualdade social, instabilidade econômica, entre outras. As consequências do modelo linear estão sendo sentidas em todos os cantos do mundo, afetando de maneira diferenciada e particular populações em situação de vulnerabilidade, a biodiversidade e os ecossistemas, desdobrando em novas crises socioambientais associadas. Enfim, os principais indicadores sociais e ambientais apontam para a necessidade de mudanças urgentes e radicais.
Na busca por modelos alternativos, nasce a Economia Circular, que propõe novos caminhos para como nos relacionamos com os recursos, valorização de processos como a reciclagem e a reutilização, a redução da quantidade de resíduos que produzimos todos os dias e a criação de processos que visem regenerar o que já foi impactado negativamente ou perdido. Ou seja, o foco é maximizar o uso dos recursos que já foram extraídos da natureza, reintegrando-os continuamente os recursos ao ciclo produtivo, minimizando a geração de resíduos e fomentando a regeneração dos ambientes e serviços ecossistêmicos. Esses objetivos estão ligados a diferentes práticas como recusar, repensar, reduzir, reutilizar, reparar, reciclar e regenerar.
Ao mudar para um modelo mais circular de economia, mudamos o foco de somente extrair valor, como se os recursos fossem infinitos, para processos que visam gerar impactos positivos reais, regenerando ambientes e serviços ecossistêmicos, o que afeta também positivamente sociedades e negócios.
ECONOMIA LINEAR
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Na Economia Linear, o ciclo de materiais segue a lógica do basicamente: extrair, produzir, consumir e descartar. O caminho termina nos aterros, lixões e ambiente.
ECONOMIA CIRCULAR
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Na Economia Circular, tudo é projetado para ser durável, reciclável, reparável e, acima de tudo, reaproveitável. O ciclo deve ser contínuo e sustentável. A ideia é não gerar resíduos.
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De acordo com a ONU,
a Economia Circular poderia gerar um ganho líquido anual de
US$108,5 bilhões,
através da redução e gestão eficaz de resíduos, como de outras práticas.
Afinal, qual é a crise na Economia Linear?
A cada ano, a humanidade extrai dos ambientes bilhões de toneladas de diferentes recursos naturais. De acordo o Panorama Global de Recursos das Nações Unidas de 2024, desde 1970, a extração desses recursos naturais triplicou nas últimas cinco décadas, saltando de 30 para 106 bilhões de toneladas, o que equivale a um aumento de 23 para 39 quilos de diferentes materiais utilizados, em média, por pessoa a cada dia.
Um dos principais desafios é que muitos desses recursos são finitos, e já mostram sinais de esgotamento. O alumínio, por exemplo, está sendo extraído em grandes quantidades, com reservas de bauxita se esgotando rapidamente. O lítio, essencial para baterias de celulares e veículos, enfrenta alta demanda e limitações de reservas. O ferro, crucial para a construção e a indústria do aço, também está sendo explorado em ritmo insustentável. Além disso, o petróleo está se tornando cada vez mais difícil de extrair, com as reservas convencionais se esgotando e forçando a exploração de fontes mais complexas, como no Ártico e na região amazônica.
Ainda segundo o levantamento da ONU, a extração e o processamento de recursos naturais são responsáveis por mais de 60% das emissões que contribuem para o aquecimento global e por 40% dos impactos da poluição do ar que afetam a saúde humana.
A desigualdade no consumo de recursos é uma outra questão central nesse contexto, no qual:
- Países em desenvolvimento consomem aproximadamente seis vezes menos materiais e geram dez vezes menos impactos climáticos do que os países desenvolvidos e;
- As nações mais desenvolvidas, por outro lado, mais que dobraram seu uso de recursos nos últimos 50 anos, impulsionadas por seu crescimento em infraestrutura e pela realocação de processos intensivos em recursos para países em desenvolvimento.
São diferenças que não apenas acentuam as desigualdades norte-sul globais, mas também colocam em risco os esforços para criar um futuro sustentável para todos. É diante disso tudo que a Economia Circular surge como caminho para repensarmos nosso jeito de fazer as coisas.
Ou seja, quando consideramos os aumentos de demandas, as formas e os ritmos de exploração, verifica-se claramente a insustentabilidade do modelo atual e suas consequências negativas em grande escala. Novas formas para garantir desenvolvimento socioeconômicos são urgentes.
Como funciona a Economia Circular?
A Economia Circular parte de algumas premissas como, por exemplo:
- Projetar (design) de modo que nada se torne lixo, valorizando e facilitando processos como reparação, reciclagem e reaproveitamento;
- Criar sistemas integrados de logística reversa, para que os materiais possam ser reaproveitados;
- Utilizar materiais e processos que não poluem o ciclo biológico, e idealmente colaborem em sua regeneração;
- Valorizar fontes de energia limpa, colaborando para descarbonizar a economia;
- Criar oportunidades dentro de novos formatos de negócio inclusivos e justos.
A Economia Circular é, portanto, um modelo que visa manter os recursos em circulação pelo maior tempo possível, reduzindo o desperdício e a necessidade de novas matérias-primas. Além disso, ela também incentiva práticas de produção sustentável e inovação, gerando uma cadeia de inovação e oportunidades que visam melhorar os ambientes e a qualidade de vida das pessoas.
Confira alguns dos principais componentes e benefícios do modelo:
- Design e Produção - Produtos são projetados para serem duráveis, reutilizáveis, reparáveis e recicláveis desde o início. Envolvem escolhas de materiais sustentáveis e design para a circularidade;
- Uso e Reuso - Materiais são utilizados e mantidos por mais tempo em circulação. Quando chegam ao fim da vida útil, podem ser reparados, atualizados ou ter seus componentes reutilizados no mesmo ou novos produtos;
- Remanufatura e Reciclagem - Produtos são desmontados para remanufatura ou reciclagem. Os materiais são recuperados e preparados para nova produção;
- Evitar contaminação entre os ciclos técnico e biológico - O primeiro envolve materiais não-renováveis, como minérios, petróleo, sílica, etc.. A ideia é manter esses recursos circulando, permitindo que sejam reutilizados, remanufaturados ou reciclados, evitando que se tornem lixo. Já o segundo envolve materiais de origem natural que podem ser decompostos e reintegrados ao meio ambiente sem causar danos. Exemplos incluem restos de alimentos que se transformam em nutrientes para o solo ou produtos de limpeza ecológicos que se decompõem naturalmente;
- Regeneração - Valorizar materiais que podem ser utilizados no ciclo técnico e serem reincorporados ao ciclo biológico. Não basta reduzir os impactos, é preciso garantir a regeneração do que já foi perdido e criar capital natural.
Os 7 Rs da Economia Circular
São eles que guiam novas formas de produzir, consumir e descartar de maneira mais corresponsável e sustentável.
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Recusar
Evitar a compra de produtos desnecessários
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Repensar
Adotar novos modelos de consumo e produção.
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Reduzir
Diminuir a quantidade de recursos utilizados e resíduos gerados.
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Reutilizar
Encontrar novos usos para produtos existentes.
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Reciclar
Transformar materiais usados em novos produtos.
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Reparar
Consertar produtos para estender sua vida útil.
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Regenerar
Conservar e permitir a recuperação dos ambientes e serviços ecossistêmicos.
Reciclagem: O R mais falado!
A reciclagem é talvez o “R” mais lembrado quando se fala em Economia Circular ou sustentabilidade. É um processo que não apenas ajuda a economizar recursos naturais, ajudando a diminuir a poluição e as emissões associadas à extração e produção. Neste processo, os catadores e as cooperativas desempenham um papel essencial. Eles garantem a eficiência do processo de reciclagem ao separar e preparar adequadamente os materiais coletados. A reciclagem, portanto, pode ser considerada fundamental na abertura de novos mercados, novos modelos de negócio e, claro, garantindo maior inclusão e por meio de novas oportunidades econômicas. Para entender melhor a importância dos catadores, das cooperativas e como eles se inserem na Economia Circular, confira este artigo sobre o Carnaval e a reflexão sobre os catadores.
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Benefícios
Avançar para uma Economia Circular e adotar uma abordagem de resíduos zero, segundo a ONU, é o único caminho para garantir um futuro mais sustentável para todos. Veja alguns dos principais benefícios:
- Redução de Resíduos: Mantém produtos e materiais em uso por mais tempo, diminuindo a quantidade de lixo;
- Economia de Recursos Naturais: Diminui a necessidade de extração de novos recursos e aumento de impactos associados;
- Eficiência Energética: Melhora a eficiência dos processos produtivos e reduz as emissões de poluentes;
- Inovação e Desenvolvimento Socioeconômico: Estimula a inovação e cria novas oportunidades de mercado;
- Redução da Pegada de Carbono: Diminui as emissões de gases de efeito estufa;
- Melhoria da Saúde Pública: Contribui para a manutenção da qualidade ambiental;
- Fortalecimento da Resiliência Econômica: Torna as cadeias de suprimentos mais resilientes e menos dependentes de recursos escassos.
Quem é responsável pela Economia Circular?
Quando pensamos na transição para a Economia Circular a palavra-chave é corresponsabilização! É necessária uma cooperação abrangente e multisetorial entre todos os setores da sociedade, incluindo empresas, governos e sociedade civil.
O diálogo para a busca por soluções a desafios comuns é também prática relevante em uma economia mais circular. O resíduo de um pode ser o insumo para muitos. E, em muitos casos, ideias inovadoras surgem da cooperação e da troca de experiências.
Mas para isso tudo acontecer, precisamos da Educação para a Circularidade!
A educação para a Circularidade é vital na transição para a Economia Circular, já que é capaz de promover a compreensão dos princípios da circularidade e preparar as presentes e futuras gerações para novos formatos de economia. As premissas e preceitos da circularidade dialogam com diferentes conteúdos já trabalhados na educação formal, informal e não-formal. É preciso criar pontes para que cada vez mais pessoas compreendam como colocar a circularidade em prática a partir do local onde se está. Pensar e agir localmente, com foco em uma transformação global.
Conclusão
Avançar para uma Economia Circular é mais do que uma escolha; é uma necessidade para garantir um futuro sustentável para todos. A transição exige mudanças profundas em como vivemos, produzimos, consumimos e descartamos, e a Economia Circular oferece caminhos para repensarmos nossas escolhas e cobrarmos por ações em diferentes instâncias.
O Movimento Circular está na vanguarda dessa mudança, promovendo iniciativas educacionais e culturais inovadoras e engajadoras. Descubra como você pode se envolver e apoiar essa transformação. Conheça nossas iniciativas, participe das ativações e acompanhe nossas reportagens para se manter informado e contribuir para um futuro mais sustentável e uma sociedade mais circular.
Seja a Mudança em Movimento. Seja Circular.