22/06/2022
Cosmetic Innovation: desafios da beleza circular
Olha que legal! O portal Cosmetic Innovation, especialista em mercado cosmético, conversou com o Movimento Circular e representantes de grandes marcas que se preocupam em aderir à economia circular, como Natura, L’Occitane e B.O.B (Bars Over Bottles), sobre o que as marcas podem fazer para deixar para trás o pensamento linear. Confira a seguir a reportagem:
Beleza circular: o que as marcas já podem fazer para deixar para trás o pensamento linear
Segunda-feira, 20 junho 2022
Por Estela Mendonça
Na economia circular, o desenvolvimento econômico está atrelado ao melhor uso dos recursos naturais sob uma visão 360º, desde a criação de um produto, sua produção, comercialização, consumo e destinação pós-consumo até seu retorno à cadeia de abastecimento, completando um ideal círculo completo.
Embora pareça desafiador, por meio da economia circular, é possível melhorar vários processos, inclusive gerando novas oportunidades de negócios. “A mudança no nosso modelo econômico poluidor e excludente para um baseado na circularidade tem sido cada vez mais considerado e posto em prática, por diferentes atores sociais como empresas, governo e cidadãos”, observa Edson Grandisoli, mestre em Ecologia, doutor em Educação e Sustentabilidade pela USP, pós-doutor pelo Programa Cidades Globais (IEA-USP) e coordenador pedagógico do Movimento Circular, um ecossistema colaborativo criado para incentivar a transição para a economia circular.
Grandisoli explica que, atualmente, o modelo econômico mais conhecido é a economia linear, com uma cadeia que se baseia na extração de recursos naturais, produção e descarte de produtos, o que o torna cada vez mais insustentável. “Já a economia circular propõe um novo olhar para nossa forma de produzir, consumir e descartar, a fim de otimizarmos os recursos do planeta e gerar cada vez menos resíduos. Uma das metas é manter os materiais por mais tempo em circulação, por meio do reaproveitamento, até que nada vire lixo. É um verdadeiro círculo colaborativo, que alimenta a si mesmo e ajuda a regenerar o planeta e nossas relações”.
Na avaliação do especialista, a indústria de cosméticos pode se tornar protagonista na criação de modelos de negócio mais circulares, com a importância da exploração controlada e sustentável de organismos, como algas, por exemplo, por fornecerem substâncias necessárias para a fabricação de diferentes produtos. “Preservar o capital natural é parte indissociável de uma economia mais circular”.
Na cadeia de produção, Grandisoli cita como exemplo que as práticas que visem à redução dos desperdícios e reutilização da água também podem ser implementadas. O design das embalagens e sua composição também são pontos importantes. “Elas devem ser pensadas de tal forma a permitir e facilitar seu reaproveitamento ou reciclagem no pós-consumo. E, por fim, o consumidor tem sempre papel fundamental na economia circular. Escolher produtos mais amigáveis socioambientalmente, fabricados por empresas com sólidas e comprovadas práticas em ESG são escolhas que favorecem toda a cadeia produtiva, de consumo e de descarte”.
Pioneira em circularidade
“A preocupação com a circularidade é um tema presente há décadas na Natura”, afirma Roseli Mello, líder global de Pesquisa e Desenvolvimento, lembrando que a empresa foi a primeira marca de cosméticos do Brasil a adotar os refis em seus produtos, ainda em 1983. Roseli destaca que as iniciativas para as cadeias de reciclagem, como o Programa Natura Elos, configuram a responsabilidade compartilhada com os fornecedores de embalagens, cooperativas, recicladores e fabricantes, e que, desde 2017, a empresa colabora para garantir a rastreabilidade, a homologação e a logística reversa em todos os seus fornecedores de materiais reciclados.
“Para decidirmos por um fornecedor de material reciclado, entendemos toda a procedência da coleta de resíduos, em quais condições foram feitas e como foram transformados em matéria-prima reciclada. O programa não consiste somente em transparência, mas, sim, na transferência de conhecimento técnico e instrumental para que todos os elos da cadeia se profissionalizem”, diz Roseli. A empresa também criou o programa de logística reversa nas lojas Natura espalhadas pelo Brasil e, desde o início em agosto de 2020, já foram coletadas 20 toneladas de embalagens que receberam descarte adequado através da iniciativa.
A executiva cita ainda como exemplo de circularidade as embalagens de Kaiak, em que os chamados “ombros” das fragrâncias, maior peça plástica das embalagens, são feitas de plástico reciclado retirado do litoral brasileiro. Além disso, os frascos também são produzidos com até 30% de vidro reciclado e utilizam álcool 100% orgânico, assim como todas as fragrâncias da Natura.
“Além disso, temos a Biome, nossa primeira linha de beleza e cuidados pessoais em barra, que possui embalagens zero plástico, feitas de papel reciclado e reciclável pós-consumo”, conta Roseli, explicando que, internamente, esses produtos são protegidos por filme celulósico biodegradável, obtido a partir de fontes renováveis e compostáveis. A linha também oferece um suporte exclusivo para itens em barra, produzido a partir de uma tecnologia inédita que captura gás metano e o transforma em bioresina, tornando um gás potencialmente nocivo ao meio ambiente em material compostável e biodegradável.
Retorno para a indústria
Beatriz Branco, gerente de branding e sustentabilidade da Weleda Brasil, reforça a urgente necessidade da circularidade: “A forma linear de desenvolvimento de produto não cabe mais no nosso planeta. Já trabalhamos com fórmulas naturais e limpas que não poluem o meio ambiente, mas também precisamos garantir que as embalagens tenham algum uso ou retorno para indústria, e não terminem em um aterro”. Priorizar o uso de materiais reciclados, buscar opções compostáveis e que não sejam de origem fóssil estão nas prioridades de desenvolvimento da companhia. “Hoje, 45% do volume de embalagens que usamos já são de origem reciclada e queremos chegar a 65% em 2022”.
Um exemplo de lançamento recente da Weleda é a manteiga corporal Skin Food, um hidratante multifuncional vegano e com ingredientes 100% naturais extraídos de forma sustentável. O produto está alinhado à economia circular, segundo Beatriz, também devido a sua embalagem de vidro, feita com 85% de material reciclado. Após o uso, o consumidor pode optar pelo descarte correto para a reciclagem de vidro ou reutilizá-la criando novas funções, como pote para velas, porta-joias e porta-ecopads.
Estação de refil
Com uma gama de produtos de cuidados com os cabelos, pele e de oral care, a Ahoaloe, fundada em 2016, usa como base a aloe vera orgânica de sua plantação, às margens da Represa do Jaguari, na Serra do Lopo, em Minas Gerais. Às formulações também foram incorporados compostos da biodiversidade amazônica. Larissa Pessoa, sócia fundadora da marca, afirma que todo o processo de criação e desenvolvimento de seus produtos é realizado com tecnologias sustentáveis.
Segundo Larissa, as garrafas de shampoos, condicionadores e frascos de 120 ml são compostos de PET reciclado e biodegradável, não residual ou intoxicante ao meio ambiente durante a decomposição. “Esse material constituidor das embalagens recebe o complemento de uma enzima pró-degradante derivada do óleo de coco da palmeira, que permanece no plástico até que seja reativado por moléculas de água no solo”, explica. Outra iniciativa da marca é a estação de refil a granel, onde os clientes poderão usar suas embalagens vazias de produtos Ahoaloe, higienizadas e secas para o envase da linha Neutra. Com a estação refil, a marca pretende reduzir em 20% o uso de embalagens e geração de resíduos de tudo que é vendido na loja, em São Paulo.
“O que fundamenta as nossas ações é um ditado nativo que diz que nossa existência deve ser de tal maneira a permitir a existência das próximas sete gerações. A sustentabilidade de ponta a ponta é o principal pilar da Ahoaloe, desde a escolha dos ingredientes, embalagens e cadeia de distribuição”, completa Larissa.
Desodorantes livres de plástico
A B.O.B (Bars Over Bottles) lançou quatro opções de desodorantes com fórmulas limpas, veganas, sem alumínio e 100% livres de plástico. As fórmulas são naturais, hipoalergênicas, dermatologicamente testadas e unem tecnologia de proteção e cuidado para cada tipo de pele. Um dos grandes objetivos da marca é oferecer uma linha completa de produtos de cuidado pessoal para transformar o banheiro em um local livre de plástico. “O portfólio da B.O.B, que começou com a introdução de shampoos e condicionadores em barra no Brasil, já conta com diversos produtos complementares, como barra de limpeza facial, máscaras capilares, linha kids e sabonete íntimo. Agora, os desodorantes chegam para compor esse conceito do banheiro zero plástico”, destaca a cofundadora da marca Andreia Quercia.
Leia aqui a matéria completa sobre beleza circular no portal Cosmetic Innovation.