01/07/2023
Brasil pode faturar R$ 1 trilhão com cooperativismo em 2027, afirma OCB
Cooperativismo gerou 493 mil empregos no Brasil em 2021. Dentro deste modelo, as cooperativas de reciclagem se destacam como vitais para a Economia Circular
O Brasil tem capacidade para faturar R$1 trilhão com cooperativismo e chegar a 30 milhões de cooperados em 2027, segundo o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas. Isto representa o dobro do valor faturado em 2021, de R$525 bilhões, segundo o mais recente anuário da OCB, divulgado em 2022. Ainda de acordo com o levantamento, o país tem 4.880 cooperativas de reciclagem, das quais 2.535 estão no mercado há mais de 20 anos, e 18,9 milhões de cooperados. Mas de que forma isso deve ocorrer e por que é importante falar sobre isso, principalmente neste Dia Internacional do Cooperativismo?
A reciclagem é um dos sete Rs da Economia Circular (Repensar, Recusar, Reduzir, Reaproveitar, Reutilizar, Reciclar e Recuperar). O Panorama dos Resíduos Sólidos, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), aponta que o Brasil produziu 27,7 milhões de toneladas de resíduos recicláveis em 2021, principalmente plásticos, papel e papelão, vidros, metais e embalagens multicamadas. Entretanto, pouco mais de um quarto das cidades brasileiras, 27% ou cerca de 1,5 mil municípios, sequer contam com coleta seletiva, impactando a destinação final dos resíduos e a extração de recursos naturais.
Instituído oficialmente no ano passado, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares) apresenta metas ambiciosas para os próximos 20 anos. A proposta é reciclar mais de 100 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos por dia em 2040, quase metade do que é gerado no país, com reciclagem, compostagem, biodigestão e recuperação energética. Isso envolve um grande processo de mobilização social e empresarial. O anuário da OCB mostra que hoje o cooperativismo é representado majoritariamente pela participação de pessoas físicas, 87%, diante de apenas 13% de empresas.
Esse exército de cooperados garante avanços expressivos para a economia, os cofres públicos e toda a sociedade. O anuário da OCB aponta que, apenas em 2021, as cooperativas de reciclagem injetaram mais de R$17 bilhões em tributos nos cofres públicos e foram responsáveis por outros R$ 18 bilhões entrarem na economia, valores referentes ao pagamento de salários e outros benefícios destinados aos colaboradores. Além disso, 493 mil pessoas foram empregadas de forma direta no Brasil.
Imagem: Divulgação/Movimento Circular
O coordenador pedagógico do Movimento Circular e doutor em Educação e Sustentabilidade, Edson Grandisoli, diz que o engajamento de pessoas, empresas e governos com a reciclagem tem ocorrido de forma sensível. “O número de cooperativas tem crescido e, cada vez mais, elas desempenham papéis fundamentais nas áreas ambiental, de saúde pública, economia e inclusão”, afirma.
Apesar das vitórias, Grandisoli avalia que ainda há muito a ser feito, uma vez que uma porcentagem ainda muito pequena dos resíduos sólidos é efetivamente reciclada. Segundo a Abrelpe, o índice de reciclagem nacional é de apenas 4%, abaixo de países com grau de desenvolvimento econômico similar, como Chile, Argentina, África do Sul e Turquia, que apresentam média de 16% de reciclagem, conforme a International Solid Waste Association (ISWA). Na Alemanha, o índice de reciclagem chega a 67%.
O coordenador do Movimento Circular afirma que a reciclagem é vital para a economia. “Um dos grandes objetivos do Movimento Circular é trazer ao conhecimento do grande público experiências de sucesso e o importante trabalho de cooperativas e empresas parceiras é fundamental, a fim de estimular ainda mais a construção de uma nova forma de pensar e agir”, comenta.
Valorização social
O diretor da Cooperativa de Coleta Seletiva da Capela do Socorro (Coopercaps), Telines Basilio do Nascimento Júnior, o Carioca, avalia que o Brasil ainda precisa percorrer um longo caminho para tornar a reciclagem inclusiva e socialmente bem-sucedida. “Hoje ainda vivemos um cenário de exclusão social enorme, falta valorização da ponta da cadeia. Poucos continuam ganhando muito e muitos, principalmente os catadores, ganhando tão pouco”, alega.
Carioca diz que um sistema eficiente de reciclagem passa pela inclusão socioeconômica dos catadores e catadoras, visibilidade, valorização profissional, direito a trabalho digno, moradia, saúde e educação. Ele comenta que as mulheres representam quase 70% da mão de obra do setor e precisam ter direito a creche. “Esperamos que nos próximos anos tenhamos mais o que comemorar, possamos ter dignidade e cada vez mais orgulho do nosso trabalho”, diz.
O índice de reciclagem brasileiro é de apenas 4%. Imagem: Divulgação/Movimento Circular
De acordo com o diretor da Coopercaps, há perspectivas de melhoria no setor com os decretos 11.413, que institui o certificado de crédito logística reversa, o certificado de estruturação e o certificado de crédito de massa futura; e o 11.414, que recria o Programa Pró-Catador, denominado Programa Diogo de Santana, e cria o comitê interministerial para inclusão socioeconômica de catadores e catadoras. “Esperamos que, na prática, essas ações sejam tão boas e efetivas como na teoria”, alega.
Além da valorização dos catadores e catadoras, inclusive com contratações pelas empresas que prestam serviços de ambientais urbanos para os municípios, Nascimento Júnior defende créditos mais acessíveis para melhorar a infraestrutura dos galpões das cooperativas e a urgência em oferecer aos catadores e catadoras condições que permitam acabar com o trabalho de tração humana, quando o transporte dos resíduos é feito pelo próprio trabalhador.
Segundo o diretor, o Brasil ainda conta com cerca de 2,3 mil lixões a céu aberto, que precisam ser fechados, com a inclusão e reintegração dos catadores e catadoras que trabalham nesses locais. Ele alega que a reciclagem no Brasil vem caminhando lentamente ao longo dos anos, e que o país não vai conseguir aumentar os índices de reciclagem se não houver planejamento em curto, médio e longo prazo.
No curto prazo, Nascimento Júnior afirma que é necessário o envolvimento de toda a sociedade, com responsabilidade compartilhada. “É preciso sensibilizar o fabricante, o distribuidor, o poder público e o consumidor para que possamos mudar nossos hábitos”, alega o diretor da Coopercaps.
Em médio e longo prazo, ele cita obrigatoriedade de oferecer educação ambiental nas escolas, desenvolvimento de políticas públicas de Economia Circular, incentivo às indústrias recicladoras, fim da bitributação das embalagens pós-consumo, valorização da mão de obra dos catadores e catadoras, redução do INSS para as Cooperativas, reforma tributária inclusiva valorizando a cadeia de materiais recicláveis.
Cooperativismo além da reciclagem
Existem cerca de três milhões de cooperativas em todo o mundo – com um bilhão de cooperados. Imagem: Reprodução/Pixabay
No Brasil, a reciclagem é um dos principais exemplos quando se fala em cooperativismo – mas este conceito vai muito além. Existem cooperativas agropecuárias, de consumo, crédito, infraestrutura, saúde, transportes, além das que atuam na área do trabalho e produção de bens e serviços – onde estão inseridas as de reciclagem.
De acordo com a OCB, “o cooperativismo é uma filosofia que busca transformar o mundo e oferecer oportunidades para todos, mostrando que é possível unir desenvolvimento econômico e social, produtividade e sustentabilidade, o individual e o coletivo”. A lógica é que todos são donos do próprio negócio e a prioridade são as pessoas, não o lucro. Ela conversa diretamente com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), definidos em setembro de 2015, pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Um exemplo disto são as ações do Dia C (Dia de Cooperar), também promovido pela OCB, quando as cooperativas promovem eventos sociais simultâneos em todo o país – com a prestação de serviços, difusão de diversas culturas e recreação nas áreas de saúde, educação, meio ambiente e outras, para as comunidades onde estão inseridas. O Dia C é celebrado desde 2009, no primeiro sábado do mês de julho – Dia Internacional do Cooperativismo.
Em nível mundial, ainda de acordo com o anuário, existem cerca de três milhões de cooperativas em todo o mundo – com um bilhão de cooperados. Isto representa cerca de 12% da humanidade. Cerca de 280 milhões de empregos são gerados – algo equivalente a cerca de 4% da população mundial.
Destas três milhões de cooperativas existentes no mundo, as 300 maiores somaram, em 2021, um faturamento de US$2,18 bilhões. Oito dessas 300 estão no Brasil. Ainda de acordo com a OCB, se as cooperativas fossem um país, esta seria a 8ª maior economia mundial.
O que é Economia Circular?
A Economia Circular propõe um novo olhar para nossa forma de produzir, consumir e descartar, a fim de otimizarmos os recursos do planeta e gerar cada vez menos resíduos. Ou seja, um modelo alternativo ao da Economia Linear - extrair, produzir, usar e descartar - que tem se provado cada vez mais insustentável ao longo da história.
Na Economia Circular, a meta é manter os materiais por mais tempo em circulação por meio do reaproveitamento, até que nada vire lixo! Para que esse modelo se torne uma realidade, todos nós temos um papel a desempenhar. É um verdadeiro círculo colaborativo, que alimenta a si mesmo, e ajuda a regenerar o planeta e nossas relações.
Aprenda sobre Economia Circular
Se você tem interesse em conhecer mais sobre esse tema, acesse a Circular Academy, o primeiro curso latino-americano gratuito sobre economia circular voltado ao público geral. Todos nós, em parceria e colaboração, podemos fazer a diferença na construção de um planeta mais circular.
Mais notícias
Com este mesmo tema:
Projeto brasileiro que busca usar resíduos de fibra de madeira para recuperar solos vence o Prêmio Por Um Mundo Sem Lixo Internacional 2024
Projeto brasileiro que busca usar resíduos de fibra de madeira para recuperar solos vence o Prêmio Por Um Mundo Sem Lixo Internacional 2024