24/05/2022
Movimento Circular na National Geographic!
Olha só, que incrível o espaço que conquistamos! O Movimento Circular foi referência em reportagem da National Geographic. A revista entrevistou o Coordenador Pedagógico do Movimento, Professor Dr Edson Grandisoli, junto com a diretora da Fundação Ellen MacArthur para a América Latina e o Caribe, Luisa Santiago. Confira a seguir a reportagem completa:
Economia circular: o que é e por que ela beneficia o meio ambiente?
POR REDAÇÃO NATIONAL GEOGRAPHIC. PUBLICADO EM 24 DE MAIO DE 2022 11:14 BRT
Crédito da foto em destaque: Thomas Peschak/ National Geographic
Devido à crise climática, a relevância da chamada economia circular está crescendo. Descubra a origem do tema, o significado, princípios e quais impactos positivos ele tem sobre o planeta.
Os modelos lineares estão expostos a flutuações de preços e acesso a matérias-primas e contribuem para a degradação ambiental, afetando serviços ecossistêmicos essenciais para o desenvolvimento. Por outro lado, o modelo circular é restaurador e regenerativo, e visa manter os produtos, componentes e materiais em maior utilidade e valor.
Devolvendo o que seria descartado como lixo ao ciclo de produção, é possível reduzir a quantidade de matéria-prima extraída da natureza, o que, consequentemente, diminui o desperdício ao longo da cadeia.
"Ao utilizar menos recursos, você também reduz a necessidade de transportar esses materiais, o que diminui a pegada de carbono da produção, uma vez que a maioria dos transportes ainda depende de combustíveis derivados do petróleo", disse Edson Grandisoli, pesquisador do programa Cidades Globais, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), em entrevista à National Geographic.
Mas além de reduzir a produção de resíduos, o modelo circular utiliza o desperdício como fonte de criação de riqueza. Por exemplo, os resíduos orgânicos, tais como frutas e vegetais, podem ser decompostos por meio da compostagem para se tornarem fertilizantes para a produção agrícola, que serve como alimento e proteção contra pragas, reduzindo o uso de produtos químicos nas plantações.
Os benefícios, além disso, são quantificáveis. Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) afirma que um modelo de economia circular poderia reduzir os resíduos industriais em alguns setores em 80-99%, e as emissões em 79-99%.
Quais são os princípios da economia circular?
Em uma economia circular, a atividade econômica contribui para a saúde geral do sistema. É por isso que o modelo se baseia em três princípios: eliminar o desperdício e a poluição desde o início, manter produtos e materiais em uso e regenerar sistemas naturais.
"Um sistema circular, basicamente, cria caminhos para alguns dos materiais que já estão em circulação, como os que compõem um telefone celular, por exemplo, para que eles possam retornar ao ponto inicial de produção, evitando que se tornem desperdício", explicou Grandisoli.
Ao aumentar a vida útil dos materiais existentes, menos recursos naturais são extraídos para novos produtos, menos desperdício é produzido e, consequentemente, o impacto ambiental gerado na economia linear é reduzido.
Esse conceito, também chamado de berço ao berço, implica que não há ideia de desperdício e que tudo serve continuamente como alimento para um novo ciclo.
“O sistema linear destrói sistematicamente a natureza, ou seja, precisamos destruí-la para gerar valor econômico", disse Luisa Santiago, diretora da Fundação Ellen MacArthur para a América Latina e o Caribe em entrevista à National Geographic. Em contraste, na economia circular, a natureza se regenera enquanto se gera valor econômico. Por isso, para Santiago, o terceiro princípio, da regeneração dos sistemas naturais, é o mais importante para a região, devido à abundância de biodiversidade.
O papel da reciclagem na economia circular
De acordo com Santiago, a abordagem central é pensar "como podemos tornar a economia, a partir de seu projeto, regenerativa".
Portanto, embora a reutilização esteja no centro do modelo, a reciclagem é uma estratégia final, que deve ser pensada e planejada para que seja realmente possível. Ela acrescenta que a capacidade de reciclagem deve ser uma característica técnica, mas deve ser pensada em termos de um sistema.
"Há 40 ou 50 anos falamos de reciclagem e, no entanto, menos de 20% dos produtos no mercado são reciclados. Por isso, parece que a forma como ela é abordada não é uma estratégia eficaz", advertiu Santiago, apontando que o desafio futuro é tratar esse tipo de conceito a partir de uma perspectiva sistêmica, e não linear.
"Os designers desempenham um papel fundamental na economia circular", explica Grandisoli. "É necessário criar produtos que possam ser facilmente desmontados e reutilizados ou reciclados”.
Para ele, essa é uma das partes mais importantes e difíceis dos sistemas de reutilização de material a ser implementada. "Na eletrônica, por exemplo, cada vez menos desmontam materiais e é cada vez mais difícil reutilizar peças ou dispositivos 'off-line'. Parte da culpa reside no fato de que os produtos são projetados para serem descartados rapidamente.”
De uma economia linear para uma economia circular
O sistema econômico linear vigente segue um caminho que começa com a exploração dos recursos naturais e continua com a produção, consumo e descarte, ou seja, com o fim da vida útil dos produtos.
"Esta é a lógica que o capitalismo tem seguido há 300 anos. Uma história na qual todos os dias extraímos uma enorme quantidade de recursos naturais que são transportados e transformados em produtos de consumo que, no final, são descartados sem receber novos usos e que se acumulam exponencialmente", explicou Grandisoli, que também é coordenador da iniciativa Movimento Circular, uma organização que valoriza a educação e a promoção do modelo circular para consumidores e empresas.
No artigo A economia circular: uma mudança de paradigma para soluções globais, os especialistas Manuel Albaladejo e Paula Mirazo, da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Onudi), e Laura Franco Henao, da Fundação Ellen MacArthur, especificaram que para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e os compromissos de emissão de gases de efeito estufa estabelecidos no Acordo de Paris, um novo modelo econômico deve ser adotado.
De acordo com a publicação, a economia tem seguido um padrão baseado na extração, produção, consumo e descarte indefinidos, sem considerar que as matérias-primas necessárias para manter esse sistema funcionando podem se esgotar.
"Estamos diante de um modelo que considera que a natureza é totalmente descartável e que os recursos são infinitos", diz Grandisoli.
Grandisoli destaca a escassez de recursos naturais e o acúmulo de toneladas de resíduos em aterros sanitários, que contaminam o solo, a água e afetam a saúde humana, como dois dos principais problemas gerados pelo modelo atual.
Na América Latina e no Caribe, a produção de resíduos sólidos urbanos atingiu 540 mil toneladas por dia em 2018, de acordo com um relatório do Pnuma.
Aproximadamente 145 mil toneladas (um terço do que é gerado diariamente) de lixo vai para lixões abertos ou diretamente para o meio ambiente.
Economia circular: onde e quando o conceito teve origem?
A ideia de feedback e ciclos em sistemas do mundo real é antiga e ressurgiu nos países industrializados após a Segunda Guerra Mundial, "quando estudos computadorizados de sistemas não lineares revelaram a natureza complexa, conectada e imprevisível de nosso mundo, que é mais como um mecanismo do que uma máquina", destaca o site da Fundação Ellen MacArthur.
"No século 19 já existiam teóricos que falavam desta noção", explica Santiago. "No século 20, por volta dos anos 1970, algumas escolas de pensamento surgiram em diferentes partes do mundo que promoveram o pensamento e o conceito da economia circular."
Essas escolas, de acordo com a Fundação, incluem, de modo geral, a economia de desempenho de Walter Stahel; a filosofia de design berço ao berço de William McDonough e Michael Braungart; a ideia de biomimética apresentada por Janine Benyus; a ecologia industrial de Reid Lifset e Thomas Graedel; o capitalismo natural de Amory e Hunter Lovins e Paul Hawkens; e a abordagem de economia azul, descrita por Gunter Pauli.
"A economia circular reúne todas essas ideias como estratégias ou métodos para construir um sistema econômico que considera os fluxos de materiais e de capital financeiro", resumiu Santiago.
Rumo a uma definição
Embora o conceito não seja novo, a economia circular ganhou terreno nos últimos anos. As evidências científicas têm acompanhado a necessidade de modificar o modelo atual de produção, distribuição, consumo e descarte, cuja própria inviabilidade está despertando um interesse crescente por alternativas mais sustentáveis.
A Fundação Ellen MacArthur foi criada em 2010 com o objetivo de contribuir e acelerar a transição para a economia circular por meio da articulação entre governos, empresas e academia, a fim de, conforme definido "construir uma economia regenerativa e restauradora por projeto".
Em 2015, a organização pôs os pés na América Latina e no Caribe para abordar o modelo emergente a partir de uma perspectiva regional.
"É verdade que a economia circular ganhou muita projeção. Entretanto, há muito barulho ou confusão sobre o que realmente ", diz Santiago. "Por exemplo, hoje o conceito é usado para se referir à economia da reciclagem, ao gerenciamento adequado dos resíduos e até mesmo ao consumo consciente."
No entanto, é claro que nenhuma dessas definições é adequada. Segundo ela, a economia circular é um sistema econômico, uma solução estrutural para a transformação do sistema atual. A crise climática e a perda da biodiversidade não são sintomas, mas uma causa de "nossa forma linear de produzir e consumir produtos e materiais".
A economia circular, então, "representa uma solução estrutural e uma oportunidade para transformar e substituir este sistema por um que enfrente estes grandes desafios", conclui Santiago.
Uma mudança de valores
Os modelos de economia circular existentes são, em sua maioria, funcionais apenas em pequena escala. Algumas empresas ou organizações conseguem implementar linhas de produção que valorizam a sustentabilidade e a reutilização. Entretanto, para que o modelo econômico se torne verdadeiramente mais sustentável, uma mudança global de valores é necessária, de acordo com os especialistas.
Grandisoli também enfatiza, por exemplo, que para alternativas circulares realmente fazerem a diferença, o pensamento contemporâneo do indivíduo sobre o coletivo precisa ser posto de lado.
"Os obstáculos a uma economia mais sustentável devem ser superados coletivamente. Não vale a pena pensar em desistir de certas coisas e ter maiores ganhos em nível coletivo em um momento como este, quando estamos passando por uma crise como esta?”, questiona Grandisoli.
"Este é o momento perfeito para recuperar economicamente", acrescenta Santiago, "mas olhando para uma nova ordem de desenvolvimento, uma era na qual construímos sobre as riquezas de nossa região um modelo que nos conduzirá à prosperidade a longo prazo."
Acesse a reportagem completa no site da National Geographic
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