08/06/2023
O que é necessário para que o plástico seja circular?
Comprometimento e investimento são duas palavras-chave quando pensamos numa Economia Circular do plástico
Por Arlene Carvalho, do Movimento Circular
Você já parou para pensar que muita coisa que faz parte da vida moderna tem plástico em sua composição? Celulares, embalagens, materiais hospitalares, carros, entre tantos outros. Isso ocorre porque o material é versátil; durável; fácil de transportar; capaz de substituir metais, vidros e madeiras em diferentes setores e aplicações.
Em 2021, a Organização das Nações Unidas (ONU), divulgou em relatório que mais de 400 milhões de toneladas de plástico são produzidas a cada ano em todo o mundo. Mas numa economia linear, quase todo esse material, independentemente de sua origem ser biodegradável ou não, em algum momento, vira lixo ou resíduo. A questão é tão importante que as soluções para combater a poluição plástica é a temática principal do Dia Mundial do Meio Ambiente da ONU.
Já em maio deste ano, um novo estudo, também da ONU, trouxe uma nova perspectiva. O relatório intitulado “Fechando a torneira: como o mundo pode acabar com a poluição plástica e criar uma economia circular”, afirma que a poluição plástica pode ser reduzida em 80% até 2040. Isto é, caso os países, as pessoas e as empresas façam mudanças profundas nas políticas, nos comportamentos e no mercado.
A publicação enfatiza a necessidade de um acordo global e que envolva todas as esferas de produção e consumo, e descreve como mudanças necessárias para acabar com a poluição plástica e criar uma economia circular poderiam ser realizadas. Inicialmente, o documento sugere a eliminação de alguns plásticos e as práticas, também em todas as escalas, de reutilização, reciclagem e reorientação ou diversificação do produto.
Se descartados de forma incorreta, o plástico pode parar em aterros sanitários. Imagem: Freepic/Reprodução
Então, como podemos falar sobre uma economia circular do plástico, evitando o descarte incorreto e essa perda de um material que nos oferece tantas possibilidades de uso?
Ainda de acordo com a ONU, para que essa economia circular do plástico seja viável, é necessário: comprometimento e investimento. E precisa ser princípio de todos os elos da cadeia de qualquer material – que contemplam indústria, comércio, consumidor, cooperativas de reciclagem, um amplo ecossistema de inovação para criar novos usos para os materiais, entre outros.
PENSANDO NISSO...
E se alguém já estivesse preocupado com essas questões atualmente? E se alguém já estivesse pensando e fazendo algo por essa cadeia de circularidade do plástico? Se alguém já estivesse pensando na origem, no uso, no designer, no retorno deste resíduo para a indústria após este uso?
A boa notícia é que sim, já existem pessoas, empresas e instituições pensando sobre isso. E não são poucas. Uma dessas iniciativas é a Rede de Circularidade do Plástico, existente no Brasil. Desde 2018, a rede une todas as partes que compõem esta cadeia para discutir e desenvolver a Economia Circular. Quem executa este trabalho é a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), desde 2018. A ação é a primeira do tipo no Brasil e reúne 66 empresas. Seu propósito é bem simples: que o plástico circule.
Uma das empresas que fazem parte desta rede, presente no primeiro elo (que contempla a indústria de petroquímicas, químicas, aditivos e distribuidores), é a Dow – fabricante de resinas plásticas, utilizadas por seus clientes em diversas aplicações, como embalagens, infraestrutura, mobilidade, entre outros. A organização, inclusive, preocupa-se bastante em garantir essa circularidade do plástico.
A resina plástica chamada de PCR é a resina reciclada após o uso do consumidor. Uma das preocupações da DOW. Imagem: Divulgação/Dow
Para a engenheira química e gerente de desenvolvimento de novos mercados da Dow, Letícia Vanzetto, é possível entregar um futuro circular e de baixo carbono, em que os resíduos possam voltar à cadeia mantendo os materiais em seu uso de maior valor pelo maior tempo possível.
“É necessário muito investimento em pesquisa e desenvolvimento, além de um trabalho de forma sistêmica e colaborativa com objetivo claro de encontrar as melhores soluções em todos os processos da cadeia de valor para que de fato o ciclo do plástico, ou de qualquer outro material, possa ser fechado, sem desperdícios”, afirma.
Para Vanzetto, a Rede de Circularidade do Plástico tem uma configuração bastante única, pois conecta todos os elos da cadeia do recurso - da produção da resina, embalagem, empresas de bens de consumo, varejistas, gestores de resíduos, cooperativas, empresas recicladoras e de volta à indústria. “Seguimos acreditando que a colaboração de todos esses setores, além do poder público, é essencial para qualquer avanço para uma Economia Circular”, explica.
Alguns pontos que já estão sendo discutidos por esta rede são, de acordo com a gerente da Dow: a análise da reciclabilidade das embalagens plásticas, a regulamentação envolvendo resina pós-consumo, a elaboração de projetos que avaliem como estimular a reciclagem municipal e, tão importante quanto os outros temas, mecanismos de incentivo à reciclagem que podem ser incorporados pelo governo - uma NCM* (Nomenclatura Comum do Mercosul) para plástico reciclado, por exemplo, bem como incentivos tributários para evitar a bitributação do resíduo plástico. “Esses temas comuns têm contribuído para o avanço da circularidade na Rede”.
*NCM - significa Nomenclatura Comum do Mercosul e é um código de oito dígitos usado para identificar a natureza de produtos comercializados no Brasil e em outros países do Mercosul. Isso influi, inclusive, na questão da tributação dos produtos.
GERAÇÃO DE EMPREGO E RENDA E LOGÍSTICA REVERSA
Estimular a circularidade do plástico é também colaborar com a geração de renda e o aumento do número de empregos. Segundo um levantamento da Abiplast, divulgado em 2022, e que analisa os dados de 2021, juntas, as indústrias de transformação e reciclagem de plástico somam quase 360 mil empregos no Brasil. Com isso, o setor estaria entre os 10 setores que mais empregam dentro deste nicho industrial.
Em 2022, o governo brasileiro assumiu um compromisso, durante encontro do Comitê Intergovernamental de Negociação da ONU, ocorrido no Uruguai: recuperar, até 2040, 50% de todas as embalagens plásticas geradas, evitando o descarte no ambiente e a reciclagem é um processo importante na realização desta meta.
Para o professor Edson Grandisoli, Coordenador Pedagógico do Movimento Circular, a reciclagem, atualmente, é a principal forma de reaproveitar o material plástico, mas ela, sozinha, não é suficiente. “Precisa existir uma preocupação das empresas e de toda a cadeia, incluindo os consumidores, em trabalhar com a logística reversa - ou seja, não é só produzir o produto e vendê-lo. É preciso responsabilizar-se pelo pós-consumo de forma integral. Este resíduo deve voltar para a indústria ao invés de ir parar no ambiente ou aterros”, ressalta o professor.
A reciclagem é uma das ferramentas da logística reversa. Imagem: Freepic/Reprodução
A logística reversa é um mecanismo da Economia Circular que possibilita que os resíduos sólidos produzidos pelo consumidor retornem à indústria ou ao setor empresarial. Depois, são seguidas etapas para que aquele resíduo sempre seja reaproveitado, seja no mesmo ciclo ou em outros processos produtivos, ou tenha uma destinação final ambientalmente adequada. Segundo a Abrelpe, em 2022, 306 mil toneladas de resíduos sólidos foram recuperados graças à logística reversa. Desses, cerca de 23% eram plásticos.
O que é Economia Circular?
A Economia Circular propõe um novo olhar para nossa forma de produzir, consumir e descartar, a fim de otimizarmos os recursos do planeta e gerar cada vez menos resíduos. Ou seja, um modelo alternativo ao da Economia Linear - extrair, produzir, usar e descartar - que tem se provado cada vez mais insustentável ao longo da história.
Na Economia Circular, a meta é manter os materiais por mais tempo em circulação por meio do reaproveitamento, até que nada vire lixo! Para que esse modelo se torne uma realidade, todos nós temos um papel a desempenhar. É um verdadeiro círculo colaborativo, que alimenta a si mesmo, e ajuda a regenerar o planeta e nossas relações.
Aprenda sobre Economia Circular
Se você tem interesse em conhecer mais sobre esse tema, acesse a Circular Academy, o primeiro curso latino-americano gratuito sobre economia circular voltado ao público geral. Todos nós, em parceria e colaboração, podemos fazer a diferença na construção de um planeta mais circular.
Mais notícias
Com este mesmo tema:
Economia Circular agora é norma nas empresas: conheça as diretrizes
Entenda mais sobre a importância de adotar práticas circulares para empresas que buscam sustentabilidade, inovação e resiliência, e como as normas ISO 59000 podem orientar essa transição estratégica.