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12/06/2025

Além da reciclagem: exemplos da diversidade de ações em Economia Circular

*Flávio de Miranda Ribeiro, Embaixador do Movimento Circular

Embora a Economia Circular esteja ganhando cada vez mais espaço nos “corações e mentes” das pessoas, empresas e governos, muitas vezes as ações práticas ainda se restringem à reciclagem dos resíduos gerados.

Ainda que a reciclagem seja uma ação importante, principalmente pelo potencial de inclusão socioprodutiva dos catadores e catadoras, ela não é a única possibilidade. Na verdade, como costumo dizer aos alunos, na Economia Circular a reciclagem é “o que fazemos quando nada mais deu certo”. Ou seja, quando não fomos capazes de evitar que algo se torne resíduo, pelo projeto ou modelo de negócio, ou quando não pudemos reter o valor dos produtos mantendo sua integridade, por exemplo com o reparo ou reuso, reciclamos para resgatar o valor dos seus materiais – o que para muitas empresas ainda é a “porta de entrada” da economia circular.

Mas é preciso ir além, e para ajudar a desenvolver essa visão, gostaria de ilustrar a diversidade das possibilidades da economia circular com alguns casos do que já está acontecendo – usando os “7 R´s da Economia Circular” defendidos pelo Movimento Circular.

Regenerar

Quando os impactos ambientais e a degradação já estão postos, a regeneração permite conservar e recuperar os ambientes e seus serviços ecossistêmicos. 

Um caso bem interessante é a polinização assistida, com a reintrodução de abelhas nativas em cultivos agrícolas, que tem um alto poder de simultaneamente favorecer a biodiversidade e aumentar a produtividade, substituindo inclusive o uso de produtos químicos. Uma empresa que atua nessa vertente é a Agrobee que conecta produtores rurais e criadores de abelhas, usando um aplicativo com inteligência artificial que permite gerenciar de um lado as fazendas, e de outro as colméias, gerando receita e sustentabilidade. 

Os efeitos incluem tanto o aumento da produtividade (12% na soja, 17% no café, 40% no abacate, etc), como ampliando a biodiversidade local – já que as abelhas ficam na cultura apenas parte do tempo (20 dias no caso do café), e no restante polinizam a vegetação local, ajudando na regeneração dos ecossistemas.

Criação de abelhas em lavoura de Abacate em Minas Gerais. Fonte: Reprodução/Agrobee
Criação de abelhas em lavoura de Abacate em Minas Gerais. Fonte: Reprodução/Agrobee

Reciclar

Por mais que a gente pense em ir além, não vamos deixar de falar da reciclagem. E mesmo que essa prática seja bem conhecida, para alguns materiais ainda existem muitos desafios – como é o caso das embalagens flexíveis e também das embalagens multicamadas. Imagine então quando estas duas características se juntam, quantos desafios temos para a reciclagem!

Pois foi pensando em criar uma alternativa mais circular para estes casos que dois importantes parceiros do Movimento Circular se juntaram - a Dow e a Valgroup - e desenvolveram uma embalagem flexível projetada para a circularidade.

Nasceu assim a ONE!, uma embalagem flexível monomaterial feita 100% de polietileno (PE), criada pensando em mercados exigentes como o de cafés. Neste caso, além de criar uma barreira eficiente para proteger o produto da interação com umidade e oxigênio, se facilita a reciclagem mecânica do  PE, convertendo o material em novos produtos ou embalagens não alimentícias. A embalagem ainda possui um zíper, frontal ou superior, que facilita o fechamento hermético para preservação da qualidade do produto.

Reparar

Significa adotar práticas de consertar produtos para estender sua vida útil, ao invés de jogar fora e comprar outro. É uma tentativa de reter o valor, revertendo a “obsolescência programada” segundo a qual acaba sendo “mais barato comprar outro que consertar”.

Um exemplo de empresa que atua mudando essa lógica em um segmento inovador é a Energy Source, dedicada a reparar baterias de íon Lítio (presentes em celulares, notebooks e veículos elétricos). 

A empresa recebe as baterias e promove um processo de reparo para que possam retornar ao mercado para um segundo ciclo de vida – ou quando não for possível, serem recicladas. Atualmente a empresa já reparou mais de 14 toneladas de baterias, com 10 MWh de energia recuperados e mais de 800 toneladas de baterias recicladas.

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Atualmente a empresa já reparou mais de 14 toneladas de baterias. Imagem: Reprodução/Energy Source

Reutilizar

Propõe manter algo em ciclos de uso, seja com o mesmo usuário (como as embalagens com refil), seja com usuários diferentes (como as garrafas retornáveis). 

Várias empresas têm adotado soluções de reuso para embalagens, mas quero trazer um caso diferente, de um produto pouco óbvio: as fraldas infantis, pela empresa Fraldas do Sul.

A empresa produz fraldas ecológicas, reutilizáveis e que reduzem drasticamente o descarte deste resíduo em aterros e lixões. Estimam que um bebê chegue a utilizar até 7 mil fraldas, que podem ser substituídas por 24 unidades do novo produto. Além do benefício ambiental e da redução de custos, a empresa também reaproveita seus resíduos de produção.

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A empresa trabalha com fraldas para crianças e adultos, além de absorventes. Imagem: Reprodução/Fraldas do Sul

Reduzir

Procura diminuir o consumo de recursos para satisfazer a necessidade das pessoas, por meio do projeto de produtos ou de modelos de negócio mais eficientes.

Um caso de empresa de grande porte que tem investido nesta estratégia é a Electrolux – com o programa Ecoplus. Este programa parte da constatação de que 85% dos impactos ambientais de ciclo de vida de um eletrodoméstico ocorrem na etapa de uso. 

Assim, desenvolveu produtos projetados para uma redução radical de consumo – em energia em até 80% em ar-condicionado, 47% para geladeiras e 30% para frigobares, e em água até 90% em lava-louças, por exemplo. Em 2024 os 71 produtos dessa linha responderam por 11% das unidades vendidas e 26% do faturamento da empresa, além de colaborar para a mudança de comportamento de seus clientes.

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A linha Ecoplus possui diversos produtos. Imagem: Reprodução/Eletrolux

Repensar

Propõe adotar novos modelos de produção e consumo, principalmente estendendo a vida útil dos produtos ou questionando sua posse, como no compartilhamento.

Um caso interessante é da plataforma Tudo Bonus, um market place para produtos reutilizáveis e remanufaturados, e que oferece bônus para pessoas que devolvem produtos usados por seu canal de logística reversa. 

Estes produtos são coletados, e após uma triagem passam por um processo que inclui desmontagem, substituição de peças, testes e remontagem, e ao final são vendidos por valores entre 30 a 50% dos itens novos. Os resultados incluem a economia de 3.200 ton de matérias-primas e uma redução de 70% na pegada de carbono em comparação com novos eletrodomésticos.

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O TudoBônus possui algumas lojas mas você pode encontrar os produtos no site. Imagem: Reprodução/TudoBônus

Recusar

Significa evitar a compra de produtos desnecessários e, portanto, não temos um caso corporativo – uma vez que se trata de uma mudança de atitude e hábitos de consumo, que depende de cada pessoa e seus valores. 

Um exemplo seria uma pessoa decidir usar uma mesma roupa por mais tempo, evitando a compra de um novo item. Mas essa atitude não vem sozinha, mas como resultado da construção de sólidos valores individuais de sustentabilidade, em geral a partir de um processo de educação ambiental transformadora. 

Assim, talvez o caso aqui seja do próprio Movimento Circular, que dentre outras missões se propõe a fortalecer a conexão entre as pessoas, empresas, organizações e o poder público para a construção de uma sociedade mais circular!

Esses foram apenas alguns exemplos para colocar em ação alguns dos principais R´s da Economia Circular, e sabemos que muito mais pode e deve ser feito. Mas o mais importante não é classificar ações, e sim entender a diversidade de possibilidades de que cada pessoa, empresa ou governo dispõe para evoluir na sua própria trajetória circular de forma contínua, melhorando sempre para juntos promovermos a transição para uma economia circular.


Prof. Dr. Flávio Ribeiro

*Profº Dr. Flávio Ribeiro
Embaixador do Movimento Circular. É Consultor e Professor em Economia Circular, Logística Reversa e Regulação Ambiental Empresarial. Engenheiro Mecânico, especialista em Gestão e Tecnologias Ambientais e Análise Pluridisciplinar do Estado do Mundo. Mestre em Energia e Doutor em Ciências Ambientais. Conselheiro para Economia Circular do Pacto Global da ONU. Professor na Pós-Graduação em Direito Ambiental Internacional da Universidade Católica de Santos, na FIA Business School e na Trevisan Escola de Negócios.

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