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13/06/2024

Restauração dos Solos e Economia Circular

Por Arlene Carvalho, do Movimento Circular

Você sabia que estamos vivendo na "Década das Nações Unidas sobre Restauração de Ecossistemas"? A Organização das Nações Unidas (ONU) propôs "acelerar a restauração da terra, a resiliência à seca e o progresso na luta contra a desertificação" como tema do Mês do Meio Ambiente 2024. A restauração dos solos envolve intervenções ativas e planejadas para recuperar sua saúde, procurando reverter a degradação causada por práticas agrícolas intensivas, desmatamento, atividades industriais e outras ações antrópicas. Essas ações se alinham diretamente com os preceitos da Economia Circular. Restaurar é um dos 7 Rs da Economia Circular, que estimula a criação de práticas que não, simplesmente, sejam menos impactantes, mas que colaborem para a restauração daquilo que já foi perdido ou seriamente alterado pelas atividades humanas. Por exemplo, ao transformar resíduos orgânicos agrícolas e urbanos em compostos e biofertilizantes, podemos enriquecer os solos, aumentar a produtividade agrícola e reduzir a necessidade de fertilizantes químicos. Além disso, práticas como a rotação de culturas, o reflorestamento e o plantio direto contribuem para preservar a estrutura, a fertilidade e a biodiversidade dos solos.

Mas o que será que já está sendo feito pelo mudo para restaurar os solos? Alguns casos de sucesso que merecem destaque:

Regenerando a África (África)

A iniciativa Regreening Africa utiliza técnicas agroflorestais adaptadas às necessidades dos agricultores em diferentes contextos socioecológicos para restaurar mais de 350.000 hectares de solos na Etiópia, Gana, Quênia, Mali, Níger, Ruanda, Senegal e Somália ao longo das últimas duas décadas. Até 2030, planeja-se restaurar mais cinco milhões de hectares, beneficiando mais de 600 mil famílias. A iniciativa visa aumentar o armazenamento de carbono, melhorar a produtividade agrícola, fortalecer a resistência dos solos e enriquecê-lo com compostos nitrogenados, essenciais para o crescimento das plantas. 

ABC Cerrado, Brasil (América do Sul)

O projeto ABC Cerrado é uma iniciativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) do Brasil, em parceria com a Embrapa, Senar e Banco Mundial. A iniciativa já restaurou uma área equivalente a 110 mil campos de futebol, utilizando diferentes tecnologias desenvolvidas pela Embrapa. Além disso, o projeto promove práticas sustentáveis para reduzir emissões de gases de efeito estufa e aumentar a produtividade. O Programa de Investimentos em Florestas do Banco Mundial, que doou US$ 10,6 milhões, também é utilizado para capacitar 12 mil técnicos e produtores rurais no bioma Cerrado. Um total de 1,6 mil propriedades ainda devem receber assistência técnica gratuita por 18 meses como parte dessa ação. 

 

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Estação de Pesquisa Ecológica de Qianyanzhou (Estação de Qianyanzhou). Imagem: Reprodução/Academia Chinesa de Ciências

Qianyanzhou, China (Ásia)

A China implementou um ambicioso programa que aumentou a área florestal do país em 74,3 milhões de hectares em uma década, incluindo a região de Qianyanzhou, onde a cobertura florestal subiu de 0,43% para quase 70%. Esses esforços são elogiados pela ONU Meio Ambiente como um exemplo de restauração bem-sucedida em larga escala, alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, e essenciais na luta global contra as mudanças climáticas, capturando e armazenando carbono equivalente a um terço das emissões anuais de combustíveis fósseis. 

Pacto Trinacional da Mata Atlântica (América do Sul)

O Pacto Trinacional da Mata Atlântica é uma coalizão multissetorial que reúne mais de 300 organizações, incluindo a Rede Trinacional de Restauração da Mata Atlântica, um movimento transfronteiriço com mais de 60 organizações. Originalmente cobrindo uma vasta área do Brasil, Paraguai e Argentina, a Mata Atlântica foi reduzida a fragmentos devido à exploração madeireira, expansão agrícola e urbanização ao longo dos últimos séculos. Até o momento, cerca de 700.000 hectares foram restaurados, com a meta de recuperar mais 1 milhão de hectares até 2030 e 15 milhões até 2050. As iniciativas estão criando corredores de vida selvagem para espécies ameaçadas, como a onça-pintada e o mico-leão dourado, garantindo a manutenção de diferentes erviços ecossistêmicos e colaborando no enfrentamento das mudanças climáticas, além de gerar milhares de empregos.

Grande Muralha Verde (Sahel, África)

A Grande Muralha Verde, lançada pela União Africana em 2007, visa restaurar savanas, pastagens e terras agrícolas em toda a África para enfrentar a mudança climática e deter a desertificação no Sahel. Com metas até 2030 de restaurar 100 milhões de hectares, sequestrar 250 milhões de toneladas de carbono e criar 10 milhões de empregos, o projeto busca criar um cinturão verde em 11 países. A Iniciativa de Referência da Década da ONU foca em Burkina Faso e Níger, estabelecendo uma barreira verde de 8.000 km de árvores e vegetação, usando práticas como plantação de árvores e agroflorestamento para melhorar a resiliência climática e a produtividade agrícola.

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A região do Corredor Seco abrange Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá. Imagem: Reprodução/ONU

Corredor Seco, América Central

A iniciativa de restauração do Corredor Seco da América Central concentra-se em métodos agrícolas tradicionais para aumentar a produtividade das paisagens e promover a biodiversidade. Esta região abrange Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá, sendo particularmente vulnerável às mudanças climáticas, com ecossistemas e populações expostas a ondas de calor e secas imprevisíveis. Por exemplo, sistemas agroflorestais que combinam árvores com culturas como café, cacau e cardamomo podem melhorar a fertilidade dos solos, aumentar a disponibilidade de água e sustentar a biodiversidade original da floresta tropical. Até 2030, a meta é restaurar 100.000 hectares de terras degradadas e criar 5.000 empregos permanentes.

Todas as iniciativas anteriores têm como resultado direto a restauração dos solos, base para a vida e para as atividades humanas mais essenciais, o que é fundamental para enfrentar os desafios socioambientais globais, como as mudanças climáticas, a desertificação e a perda de biodiversidade. Ao longo desta década, várias iniciativas em diferentes partes do mundo têm obtido sucesso na recuperação de paisagens degradadas e na promoção de práticas mais sustentáveis. Projetos como Regreening Africa, ABC Cerrado, Grande Muralha Verde e Pacto Trinacional da Mata Atlântica são exemplos claros de como a restauração dos solos não só melhora a saúde dos ecossistemas, mas também fortalece economias locais e comunidades.

Sobre o Movimento Circular

Criado em 2020, o Movimento Circular é um ecossistema colaborativo que se empenha em incentivar a transição da economia linear para a circular. A ideia de que todo recurso pode ser reaproveitado e transformado é o mote da Economia Circular, conceito-base do movimento. O Movimento Circular é uma iniciativa aberta que promove espaços colaborativos com o objetivo de informar as pessoas e instituições de que um futuro sem lixo é possível a partir da educação e cultura, da adoção de novos comportamentos, da inclusão e do desenvolvimento de novos processos, produtos e atitudes. O trabalho conta com a parceria pioneira da Dow, empresa de produtos químicos, plásticos e agropecuários, com sede em Michigan, Estados Unidos. O Movimento Circular contabiliza hoje 2 milhões de pessoas impactadas por suas ativações e conteúdos.

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Se você tem interesse em conhecer mais sobre esse tema, acesse a Circular Academy, o primeiro curso latino-americano gratuito sobre Economia Circular voltado ao público geral. Todos nós, em parceria e colaboração, podemos fazer a diferença na construção de um planeta mais circular.

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