01/08/2024
O papel transformador das mulheres na Economia Circular
*Dra. Isabela da Cruz Bonatto
Ao discutir a Economia Circular, uma parte vital da sustentabilidade e modelo essencial para o futuro global, é fundamental incluir a análise de gênero. Precisamos compreender aspectos de nossa sociedade que podem impulsionar esse novo modelo, reconhecendo e valorizando as contribuições das mulheres nesse processo.
Sendo assim: Há de se reconhecer e celebrar aspectos positivos que as mulheres trazem para a mesa quando falamos de sustentabilidade e Economia Circular!
Atuação na reciclagem e no setor informal
No Brasil e na América Latina, as mulheres desempenham um papel significativo no setor de reciclagem e representam uma parcela significativa dos trabalhadores do setor informal de reciclagem. Elas estão frequentemente envolvidas em atividades de coleta, triagem e processamento de materiais recicláveis, contribuindo de forma essencial para a cadeia de reciclagem. As mulheres compõem aproximadamente 90% da força de trabalho no setor de reciclagem informal, atuando principalmente como catadoras de materiais recicláveis.
A participação das mulheres no setor informal de reciclagem é impulsionada por vários fatores. Em muitos casos, elas encontram oportunidades de emprego nesse setor devido à falta de outras opções de trabalho formal, especialmente em áreas urbanas e periféricas. Além disso, as mulheres muitas vezes têm habilidades de organização e trabalho em equipe que são valorizadas na coleta e triagem de materiais recicláveis.
Atuação no Empreendedorismo Sustentável
Podemos observar uma tendência crescente de mulheres empreendedoras que estão atuando em negócios sustentáveis em todo o mundo, liderando iniciativas e negócios que promovem práticas sustentáveis e circulares. Isso inclui áreas como energias renováveis, tecnologias verdes, moda sustentável, agricultura orgânica, produtos de consumo ecológicos, entre outros.
Inclusão e Capacitação de mulheres
Em muitos países e comunidades, as mulheres enfrentam desafios adicionais de acesso à educação e oportunidades econômicas. Programas como, Women4Climate Tech Challenge, Women in Cleantech & Sustainability, Circular Women, Women's Environmental Network (WEN) e Women's Circular Economy Network (WCEN), que visam capacitar as mulheres em habilidades relevantes para a Economia Circular, podem ajudar a promover a inclusão econômica e a autonomia das mulheres.
Atuação feminina no consumo sustentável
As mulheres exercem um papel crucial na educação e conscientização sobre consumo sustentável e práticas de Economia Circular. Mesmo que não estejam atuando profissionalmente em algum segmento específico da Economia Circular, elas têm o poder de influenciar suas famílias, amigos e comunidades a adotarem comportamentos mais responsáveis em relação ao consumo e ao descarte de resíduos, por exemplo.
Papel das mulheres em lideranças e na advocacia por práticas sustentáveis e Economia Circular
As mulheres estão na vanguarda de movimentos sociais e ONGs que defendem a sustentabilidade e a Economia Circular. Não é raro encontrar o gênero feminino liderando campanhas de conscientização, organizando protestos e pressionando por mudanças políticas e corporativas que promovam práticas sustentáveis e justiça ambiental. Do mesmo modo, mulheres em cargos de liderança governamental e em organizações não governamentais (ONGs) desempenham um papel significativo na promoção de políticas sustentáveis.
A advocacia feminina também pode ser observada em nível internacional. Mulheres frequentemente participam de conferências e fóruns internacionais para discutir questões ambientais e de Economia Circular, facilitando colaborações globais em prol de um futuro mais sustentável. Elas contribuem para moldar agendas políticas e promover a cooperação internacional em questões ambientais.
Para refletir e concluir
Diante do papel multifacetado das mulheres na Economia Circular e seu impacto em diversos níveis, é fundamental considerar características sociodemográficas individuais relevantes ao analisar essa questão. Embora existam algumas evidências sobre a relação de gênero com a Economia Circular, é crucial reconhecer a atuação das mulheres nesse setor por meio de dados concretos e pesquisas mais aprofundadas.
Portanto, eu deixo aqui meu encorajamento e desejo para a realização de mais estudos que explorem de forma abrangente as conexões entre o contexto em nível macro e as diferenças em nível individual nas visões sobre sustentabilidade e Economia Circular entre homens e mulheres. Isso nos ajuda a compreender melhor como o contexto molda a diferenciação de gênero na percepção de problemas ambientais, contribuindo assim para avançar em direção a uma sociedade mais equitativa e sustentável.
*Dra. Isabela da Cruz Bonatto
Embaixadora do Movimento Circular. É doutora e mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina. Tem MBA em Gestão Ambiental pela Universidade Federal do Paraná, bacharelado e licenciatura em Biologia (PUCPR e UTFPR). É consultora socioambiental, com ênfase na gestão de resíduos sólidos, promoção da Economia Circular e sustentabilidade corporativa. Tem experiência com setores governamentais, privados, comunitários, ONGs e instituições internacionais (UNEP). Mora no Quênia desde 2021, é membro diretivo da Fundação "Together for Better" e promove iniciativas de Economia Circular e empoderamento feminino.
Mais notícias
Com este mesmo tema:
Economia Circular agora é norma nas empresas: conheça as diretrizes
Entenda mais sobre a importância de adotar práticas circulares para empresas que buscam sustentabilidade, inovação e resiliência, e como as normas ISO 59000 podem orientar essa transição estratégica.