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16/05/2023

Numa Economia Circular, a reciclagem reduz o lixo e muda vidas

Por Margarida Azevedo, para o Movimento Circular

Enquanto o brasileiro produz cerca de um quilo de lixo por dia, em média, somente 4% desses resíduos são recuperados e reciclados. Os dados são do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2022, da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), e da International Solid Waste Association (ISWA), respectivamente.

Esta conta desigual entre o que se gera em resíduos e o que se recicla traz prejuízos ambientais e sociais, afinal, ainda segundo a Abrelpe, estima-se que o setor de reciclagem tenha gerado mais de 330 mil empregos diretos e indiretos em 2020.

Com sua potencialidade em transformar, a reciclagem mudou a vida de Telines Basílio do Nascimento Júnior, 58 anos, hoje à frente da Coopercaps, uma cooperativa que reúne 352 pessoas na capital de São Paulo e que faz a diferença para diminuir os impactos negativos do descarte irregular do lixo.

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Telines Basílio do Nascimento Júnior, presidente da Coopercaps

São três décadas e meia ganhando a vida com a gestão de resíduos sólidos. Primeiro juntando recicláveis pelas ruas na Zona Sul da cidade, depois como presidente da cooperativa formada por mais de dois terços de mulheres (68%). Entre os catadores há egressos do sistema prisional, refugiados, população LGBTQI+, idosos e jovens em formação.

A cooperativa que Telines preside tem seis unidades na capital paulista. A mais recente é uma central que virou referência no País para outras cooperativas, para empresas e prefeituras. Um trabalho que teve início em 2001, de forma improvisada, com mais nove catadores. Mas que começa, oficialmente, em 2003, com a fundação da Coopercaps. Somente ano passado, os 352 cooperados processaram e comercializaram 24 mil toneladas de material reciclável, gerando um faturamento de R$ 18 milhões.

Ressignificando vidas

O envolvimento de Carioca, como é mais conhecido entre os colegas, com resíduos começou por acaso. Natural do Rio de Janeiro, ele sonhava que em São Paulo teria mais oportunidades de emprego. Migrou para a capital paulista com 22 anos. Depois de um mês na cidade, sem dinheiro para se manter, o jeito foi morar na rua. Durante 12 anos não teve um teto fixo. Dormia nas calçadas do bairro de Cambuci e passava os dias puxando carroça e catando lixo reciclável. O que ganhava mal dava para comprar a comida do dia.

De uma dona de ferro velho recebeu o convite para morar nos fundos desse espaço. O sonho de virar médico pediatra ficava cada vez mais distante. Em contrapartida, seu jeito comunicativo e de liderança agregou mais catadores e juntos criaram a cooperativa. Aos poucos, com muita luta, conseguiram comprar máquinas e equipamentos de proteção. O trabalho chamou a atenção da Prefeitura de São Paulo. Em 2008, Carioca foi convidado a participar de um curso em Osaka, no Japão, cidade irmã de São Paulo.

"Ali entendi o impacto do meu trabalho. Numa conversa com uma engenheira ambiental que foi comigo ela disse que tinha preconceito com os catadores, que éramos igual ao lixo que catávamos. Depois de me conhecer e ver o tamanho do nosso trabalho, ela mudou de visão. Ali eu percebi que a minha missão não era reciclar lixo e sim ressignificar vidas", conta Carioca, hoje com diploma superior de gestão ambiental.

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"Sinto orgulho da minha jornada. A cooperativa gera oportunidade para dezenas de famílias, que aqui encontram dignidade, renda para pagar suas contas, ter comida na geladeira. Jovens que não tinham emprego, mulheres que precisam criar seus filhos. O nosso diferencial não é reciclar resíduos e sim a mudança de vidas", destaca Carioca.

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A reciclagem e a Economia Circular têm o poder de gerar um grande impacto social em todo o mundo, ajudando a reduzir a quantidade de resíduos que são enviados para aterros sanitários, preservando os recursos naturais e gerando empregos e renda para milhares de pessoas.

Fomento à reciclagem é urgente

Neste Dia Mundial da Reciclagem, 17 de maio, o Movimento Circular convida você a pensar mais na sustentabilidade e no cuidado com o planeta, mas também refletir do quanto é urgente que cada cidadão, empresa, entidade governamental ou do terceiro setor avalie o quanto de resíduo está produzindo e como colocar a destinação correta desses materiais nas suas agendas individuais e coletivas.

Somente ano passado foram recolhidas 81,8 milhões de toneladas de lixo no País. "No Brasil a gente ainda recicla muito pouco, em torno de 4% a 5% do total de resíduos recicláveis são efetivamente reciclados. É um índice muito baixo se comparamos, por exemplo, com um país como Alemanha, que recicla cerca de 70% dos seus resíduos. Temos um longo caminho a percorrer", destaca o professor Edson Grandisoli, coordenador pedagógico e embaixador do Movimento Circular.

O especialista completa: "A partir do momento que reciclamos determinados tipos de material, como por exemplo plástico, latinhas ou vidro, diminuímos a necessidade do uso de novas matérias-primas, reduzindo a pressão sobre a retirada de recursos do ambiente".

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No entanto, os desafios enfrentados pelos catadores de materiais recicláveis no Brasil, e em todo o mundo, incluem a falta de reconhecimento formal, a falta de equipamentos adequados de proteção, a exposição a produtos químicos tóxicos, a falta de acesso a serviços básicos, como saúde e educação, e a remuneração abaixo do necessário para garantir uma vida digna. No entanto, muitos catadores também são vistos como agentes importantes de mudança, que ajudam a reduzir a quantidade de resíduos que são enviados para aterros sanitários e contribuem para o desenvolvimento sustentável.

O que é Economia Circular?

A Economia Circular propõe um novo olhar para nossa forma de produzir, consumir e descartar, a fim de otimizarmos os recursos do planeta e gerar cada vez menos resíduos. Ou seja, um modelo alternativo ao da Economia Linear - extrair, produzir, usar e descartar - que tem se provado cada vez mais insustentável ao longo da história.

Na Economia Circular, a meta é manter os materiais por mais tempo em circulação por meio do reaproveitamento, até que nada vire lixo! Para que esse modelo se torne uma realidade, todos nós temos um papel a desempenhar. É um verdadeiro círculo colaborativo, que alimenta a si mesmo, e ajuda a regenerar o planeta e nossas relações.

Aprenda sobre Economia Circular

Se você tem interesse em conhecer mais sobre esse tema, acesse a Circular Academy, o primeiro curso latino-americano gratuito sobre economia circular voltado ao público geral. Todos nós, em parceria e colaboração, podemos fazer a diferença na construção de um planeta mais circular.

*Imagens cedidas pela Coopercaps

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