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19/02/2025
Economia Circular e o papel das embalagens no combate ao desperdício de alimentos
Sabemos do importante papel das embalagens para garantir a durabilidade dos alimentos e reduzir os desperdícios. Mas será que é possível produzir embalagens realmente circulares?
Por Arlene Carvalho, do Movimento Circular
Quando você pensa em desperdício de alimentos, qual é a primeira coisa que vem à sua mente? Talvez seja aquela comida esquecida na geladeira ou os produtos vencidos no supermercado. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 1 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas anualmente. Será que embalagens mais inteligentes poderiam reduzir esse número? Mas o que torna uma embalagem realmente eficaz? E como garantir que ela siga os princípios da Economia Circular para minimizar desperdícios e gerar menos resíduos?
Para muitos, a embalagem é apenas um detalhe. No entanto, ela desempenha papéis bastante importantes como, por exemplo:
- Aumentar a vida útil dos produtos; minimizar perdas durante o transporte e armazenamento;
- Melhorar a experiência do consumidor, oferecendo porções e formatos que evitam o desperdício;
- Diminuir a necessidade de conservantes, tornando os produtos mais saudáveis;
- Levar informações importantes ao consumidor
Em resumo, as embalagens garantem a conservação dos alimentos por mais tempo, reduzindo perdas e desperdícios, o que também colabora na redução dos impactos socioambientais ligados à produção. Ou seja, ela deve ser pensada como parte do design daquele produto alimentício. O Prof. Dr. Edson Grandisoli, embaixador e coordenador pedagógico do Movimento Circular, destaca que uma embalagem bem planejada pode prolongar a vida útil dos alimentos, reduzir perdas e otimizar o uso de recursos naturais.
“As embalagens realmente desempenham um papel muito importante no nosso dia a dia. Elas devem ser práticas, reaproveitáveis ou recicláveis em sua totalidade. Todas essas qualidades melhoram nossa experiência e reduzem perdas, desperdícios e impactos ambientais relacionados. Apesar de sua importância, o consumidor pode e deve fazer escolhas cada vez mais acertadas, ou seja, optar por produtos com cada vez menos embalagens. Dessa forma, ele também colabora para gerar menos resíduos e se torna um ator-chave na transição para a circularidade.”
Embalagem da linha Cryovac da Sealed Air. Imagem: Sealed Air.
Como criar embalagens que protejam os alimentos sem gerar ainda mais resíduos?
Segundo o Drawndown Project, organização sem fins lucrativos que analisa soluções climáticas, evitar o desperdício de alimentos é uma ação muito importante para reduzir as emissões de gases de efeito estufa para a atmosfera.
Mas afinal, qual seria a embalagem ideal para auxiliar nesta missão? Conseguimos produzir embalagens que protejam os alimentos sem gerar ainda mais resíduos e emissões? De acordo com Caio Prado, líder de Sustentabilidade e Regulatory Affairs para a América Latina na Sealed Air, parceira do Movimento Circular, a resposta é clara e se baseia na inovação tecnológica e no design inteligente.
“A melhor embalagem é aquela capaz de entregar o alimento ao cliente final. Se o alimento é desperdiçado por um problema na embalagem, só há geração de resíduo. A inovação é capaz de transformar o setor e com isso, aspiramos metas cada vez mais ambiciosas e continuamos comprometidos em promover a economia circular por meio de esforços para: projetar ou aprimorar nossas soluções de embalagem para serem recicláveis; colaborar em tecnologia e infraestrutura de reciclagem; e incorporar conteúdo reciclado ou renovável em nosso portfólio”, frisa.
A Sealed Air Corporation, fundada em 1960 e presente no Brasil desde 1998, é líder em embalagens sustentáveis para diversos setores, como alimentos, saúde e logística. Desde os anos 70, investe em materiais que equilibram energia, meio ambiente e economia, além de desenvolver embalagens recicláveis e reutilizáveis para reduzir a pegada ecológica. A empresa busca zerar suas emissões de carbono em nível mundial até 2040 e, até 2030, pretende cortar 46% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e reduzir em 28% o consumo de energia e água.
Um exemplo dessas soluções, são embalagens destinadas a bens de consumo com materiais infláveis de amortecimento compostos por mais de 90% de conteúdo reciclado, e totalmente recicláveis. É o caso das almofadas plásticas de ar da marca BUBBLE WRAP®. Elas são fabricadas em polietileno e contém alto conteúdo reciclado, incluindo 55% de fontes recicladas pós-consumo e 40% de fontes recicladas pós-industriais, totalizando 95% de material reciclado. O uso de conteúdo reciclado reduz a necessidade de materiais virgens e apoia a redução de resíduos, ao mesmo tempo que proporciona um desempenho comparável aos produtos feitos a partir de materiais virgens.
Embalagem da linha Bubble Wrap da Sealed Air. Imagem: Sealed Air
A Sealed Air, apenas em 2023, investiu 97 milhões de dólares em pesquisa e inovação e já conta com 20% de seu portfólio total composto por materiais reciclados ou renováveis, incluindo as embalagens infláveis de amortecimento. Prado ainda pontua a importância do equilíbrio entre sustentabilidade e eficiência:
"Se um material reciclado não pode ser usado por questões regulatórias - caso dos materiais utilizados em contato com alimentos - ou falta de tecnologia para o desenvolvimento apropriado de embalagens resistentes e com qualidade suficiente para serem utilizadas por nossos clientes, trabalhamos com o desenvolvimento de novas estruturas. Neste caso, desenvolvemos novos materiais, de alta engenharia, e trabalhamos com a redução de espessura da embalagem, sem alterar suas características de proteção para minimizar o impacto ao meio ambiente. O objetivo é aumentar a reciclabilidade e reduzir a geração de resíduos”.
Imagem: Thiago Egg/Movimento Circular
O desafio das embalagens no Brasil
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regula a produção e uso das embalagens alimentícias, as definindo como “artigos em contato direto com alimentos, com a função de protegê-los contra agentes externos, alterações, contaminações e adulterações”. Elas são classificadas em categorias específicas, como celulósicas, plásticas, metálicas, entre outras, e cada material possui regulamentações próprias.
As normas brasileiras seguem padrões do Mercosul, que se baseiam nas regulamentações da União Europeia, FDA dos EUA e BfR da Alemanha. No caso de exportação, aplicam-se as regras do país de destino, conforme o artigo 54 do Decreto-Lei n. 986/69. Para embalagens recicladas, há regras específicas que garantem segurança e qualidade. No entanto, a infraestrutura para reciclagem ainda precisa avançar.
“É sempre muito importante lembrar que a embalagem faz parte de um ciclo muito maior e que, portanto, influencia - e é influenciada - por diferentes fatores como decisões empresariais, escolhas dos consumidores e políticas públicas. O importante é criar e valorizar ações que colaborem efetivamente com as pessoas e com o ambiente, zerando impactos negativos e criando novas oportunidades para o desenvolvimento socioeconômico. No Brasil, ainda temos um longo caminho a percorrer no que diz respeito à reciclagem e logística reversa, por exemplo. Apesar disso, governo e empresas têm sinalizado cada vez mais e de maneira mais clara a importância de ações multisetoriais que garantam a circularidade de produtos e embalagens”, explica o embaixador do Movimento Circular.
A Economia Circular surge como um caminho promissor. Entretanto, empresas, consumidores e governos precisam repensar a forma como produzimos e descartamos embalagens, tornando-as parte de um sistema integrado focado na corresponsabilidade e respeito ao ambiente e às pessoas.