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12/08/2024

Qual a ligação entre as embalagens de vidro e os Rs na Economia Circular?

Por Millena Araújo e Arlene Carvalho, do Movimento Circular

Você já parou para pensar que vários recipientes de vidro, que costumavam ser embalagens, são comumente reaproveitados para diferentes propósitos? Exemplos incluem garrafas de bebidas, frascos de alimentos e, em alguns casos, até frascos de medicamentos, cosméticos ou perfumes. Isso ocorre porque o vidro é um material extremamente versátil, durável, inerte (onde não há trocas de substâncias entre produto e recipiente), de fácil limpeza e, consequentemente, reutilizável — um dos principais preceitos da Economia Circular. Sua estética, inclusive, muitas vezes o torna um objeto atraente para decoração, armazenamento ou artesanato.

Essa modalidade de uso do material é chamada de doméstica e é altamente comum no Brasil, podendo durar décadas nos lares das pessoas, de acordo com Caroline Morais, gerente de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro). Há também a reutilização industrial das embalagens de vidro. 

“As embalagens retornáveis são a Economia Circular por excelência, e o vidro é um poderoso aliado. Elas são reutilizadas pela indústria por longos períodos - já que o vidro é um material feito para ser reutilizado. Com isso, ele contribui significativamente para a sustentabilidade, tanto em nossos lares quanto em larga escala na indústria”, aponta Morais.

Para que essa reutilização aconteça em escala industrial e as embalagens possam ser retornáveis, Morais explica que a embalagem de vidro pode ser reutilizada por meio da reinserção na linha de produção. 

"As garrafas, já com os produtos dentro, são transportadas aos bares e restaurantes, onde são armazenadas até serem consumidas. Após o consumo, essas embalagens são reservadas até que a empresa faça o recolhimento. Elas saem dos consumidores e são higienizadas e reenvasadas. Muitas vezes, esse ciclo é feito por mais de 10 anos. Além disso, quando as garrafas de vidro retornável são reutilizadas, diminuímos diretamente as emissões de CO2 do ciclo de vida dos produtos, apoiando o combate às mudanças climáticas”, ressalta.

Já percebemos que o vidro possui um enorme valor em termos de reutilização, especialmente no que se refere às embalagens e às garrafas de vidro na indústria de bebidas. Mas, além disso, que tal explorarmos um pouco mais do potencial e também dos desafios deste material em relação a outros Rs da Economia Circular?

Reciclagem do Vidro

O Prof. Dr. Edson Grandisoli, embaixador e coordenador pedagógico do Movimento Circular explica que o vidro é um dos materiais mais utilizados no mundo e a sua reciclagem e reaproveitamento são fundamentais para gerar menos resíduos e poupar recursos naturais e energia.

“A areia é a principal fonte de dióxido de silício (SiO2) - essencial para a produção de vidro. No entanto, as reservas mundiais de areia estão se esgotando em diferentes locais. Um estudo de 2022, da Universidade de Leiden, nos Países Baixos, alertou que a procura de areia deverá aumentar 45% nas próximas quatro décadas. Por isso, repensar as práticas dentro de uma Economia Circular do vidro é mais que fundamental e urgente”, afirma.

O vidro pode ser reciclado inúmeras vezes, sem perda de qualidade no processo de reciclagem, ou seja, 1kg de caco de vidro produz 1 kg de vidro novo. Atualmente, mais de 400.000 toneladas do material são reciclados por ano. E isso representa cerca de 100 mil toneladas de CO2 a menos na atmosfera no período. 

“Utilizar caco (de vidro) torna a produção mais eficiente, por isso, é estimado que 100% de caco permite reduzir a energia gasta no processo em 40%.”, pontua a gerente da Abividro, Caroline Morais.

MC_EmbalagensVidro_Arte 05 (1).pngImagem: Thiago Egg/Movimento Circular

Valorizar os recursos da natureza, otimizar o uso de energia e criar novas oportunidades para diferentes atores da sociedade são benefícios que podem ser gerados a partir de uma circularidade do vidro, além de colaborar para uma menor geração de resíduos. 

“O vidro tem um potencial enorme para ser reaproveitado ou reciclado, bases de uma economia mais circular. Sua reciclagem pode gerar empregos, colaborar na conservação do ambiente e ainda ser lucrativa para os diferentes atores da cadeia”, finaliza Grandisoli.

No Brasil, segundo a gestão pública, anualmente, mais de 1 bilhão de garrafas de vidro são descartadas no país, mostrando o enorme potencial econômico ainda a ser explorado. Dados da Abividro de 2020, davam conta que a reciclagem do vidro no país movimentava aproximadamente R$ 120 milhões por ano.

É esperado que a Circula Vidro, entidade gestora da logística reversa do vidro no Brasil, expanda os benefícios econômicos e ambientais esperados com a ampliação da reciclagem de embalagens de vidro no país. 

“Adotamos um sistema de livre comércio entre os operadores, o que garante maior eficiência no processo. Se a utilização do vidro reciclado for mais econômica que a produção a partir de matéria-prima, tanto as embalagens quanto os produtos finais terão preços mais competitivos, beneficiando catadores e operadores logísticos. Isso reduz os custos de transação, beneficiando todos, incluindo o consumidor final. Ambientalmente, haverá menos resíduos em locais inadequados e redução na emissão de carbono ao usar vidro reciclado em vez de matéria-prima”, explica o CEO da Circula Vidro, Fabio Ferreira.
 

MC_EmbalagensVidro_Arte 04 (1).pngImagem: Thiago Egg/Movimento Circular. 

Adepto da circularidade

O Grupo Petrópolis, responsável pela produção de cervejas como Itaipava, Petra e  Black Princess, é adepto da circularidade do vidro em seu processo de produção. As embalagens de vidro do Grupo já possuem 60% de conteúdo reciclado, porém a meta é aumentar cada vez mais. Junto com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), a empresa cervejeira lançou, em 2022, a Missão Estratégica de Circularidade do Vidro. A proposta era desenvolver soluções para ampliar e fortalecer a circularidade das embalagens de vidro na cadeia produtiva e de consumo, priorizando alternativas tecnológicas, logísticas e econômicas. O gerente de Sustentabilidade e Melhoria Contínua do Grupo Petrópolis, Alaercio Nicoletti, explica os planos para ampliar esse número.

“Nos últimos anos, estamos realizando ações efetivas para aumentar o percentual de material reciclado em nossas embalagens e, principalmente, reduzir a quantidade de materiais utilizados com o uso do método científico para ações de melhoria contínua. O principal desafio do vidro é a logística reversa das embalagens pós-consumo, já que menos de 4% das garrafas não retornáveis (tipo long neck) são destinadas corretamente. Por ser um material de custo baixo – muito inferior aos preços praticados para o alumínio, por exemplo – com peso elevado e potencial de ferimento, o vidro geralmente é descartado no lixo comum das casas e pontos de venda”.

Como oportunidades, o gerente destaca “o interesse da indústria de garrafas, que, importam cacos de vidro da Europa para suprir a demanda interna pelas garrafas quebradas”. Para ele, existem ainda muitos benefícios na reeducação dos consumidores para o uso de embalagens retornáveis e o correto descarte delas. 

“Há dez anos tínhamos gastos cerca de R$ 11 milhões para destinação de nossos resíduos industriais em aterros sanitários. Em 2023, tivemos uma receita de R$ 30 milhões com o destino adequado dos mesmos resíduos, gerando receita a partir da Economia Circular”, aponta Nicoletti.

As embalagens dos nossos produtos são 100% recicláveis e, se devidamente descartadas, podem ser reaproveitadas pela indústria por meio do processo de Logística Reversa. Em janeiro deste ano, iniciamos o Projeto Circularidade do Vidro, junto à Confederação Nacional das Indústrias (CNI), para realizar o mapeamento da cadeia de reciclagem do vidro. O projeto contempla o uso eficiente de rotas logísticas a partir de uma plataforma digital que vai operacionalizar os pontos de coleta e de armazenamento. O vidro pós-consumo será obtido a partir da parceria com bares e restaurantes, condomínios, possíveis eventos e univesidades”, complementa o gerente.

Um diferencial da iniciativa, é que o resíduo será beneficiado já no momento da coleta, sendo reduzido ao formato de caco de vidro e direcionado diretamente para os principais recicladores do país com uma geração de valor desse material. Assim, os resíduos recuperados poderão retornar ao ciclo produtivo do Grupo Petrópolis na composição de garrafas com conteúdo reciclado.  

Ainda de acordo com o Grupo Petrópolis, a Missão Estratégica de Circularidade do Vidro foi criada justamente para facilitar o processo de logística reversa do vidro - já que o mesmo, assim como de outros materiais, enfrentam alguns desafios comuns - como dificuldades no processo de coleta seletiva em muitas cidades e o descarte incorreto dos resíduos pela população. “Acreditamos que, ao buscar sinergia com outros agentes, poderemos alcançar nossa ambição em contribuir para o desenvolvimento sustentável do Brasil”, finaliza Nicoletti.

“A integração de todos os agentes e a sinergia entre eles serão determinantes na transformação da reciclagem no Brasil. A cooperação, por meio do encadeamento de ações de todos os atores do ciclo de vida dos produtos, é fator necessário para que seja possível cumprir o objetivo da logística reversa. Por outro lado, a ausência dessa coordenação pode implicar em um mal funcionamento do sistema, vindo a causar a falência técnica e financeira da logística reversa. As obrigações individualizadas de cada ator da cadeia resultam da posição que ele ocupa na importação ou fabricação, distribuição e comercialização do produto ou embalagem”, afirma a representante da Abividro. 

E os outros Rs?

Além de Reutilizar e Reciclar, a Economia Circular destaca outros importantes Rs que podem contribuir para um uso mais sustentável do vidro. 

  • Reduzir o consumo é um dos pilares fundamentais: ao optar por produtos com menos embalagens ou que utilizem embalagens de vidro retornáveis, diminui-se a demanda por novas produções e, consequentemente, os impactos socioambientais.
  • Repensar o design e a funcionalidade das embalagens de vidro pode levar a soluções inovadoras e sustentáveis. 

Empresas podem investir em modelos que facilitem a reutilização e reciclagem, enquanto consumidores podem ser incentivados a escolher produtos que adotem essas práticas. 

  • Recusar embalagens não recicláveis é também uma atitude que reforça a circularidade. Ao incorporar esses Rs no cotidiano, tanto indústrias quanto consumidores podem colaborar para um ciclo de vida mais sustentável para o vidro.

O potencial do vidro na Economia Circular é vasto e promissor, contudo, sua realização plena depende de uma mudança de mentalidade e ações coordenadas entre todos os setores da sociedade. A implementação eficaz da logística reversa das embalagens de vidro no Brasil, agora liderada pela Circula Vidro e apoiada por iniciativas como a Missão Estratégica de Circularidade do Vidro do Grupo Petrópolis, entre outras, reflete o compromisso do setor  com a Economia Circular. 

A integração de todos os agentes da cadeia, incluindo indústrias, governos, instituições e consumidores, é fundamental para alcançar as metas de reciclagem estabelecidas. Ao promover o reuso, a reciclagem e a redução do consumo de embalagens de vidro, o país não apenas protege o meio ambiente, mas também impulsiona a economia e fomenta práticas mais responsáveis em relação aos recursos naturais. 

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Sobre o Movimento Circular

Criado em 2020, o Movimento Circular é um ecossistema colaborativo que se empenha em incentivar a transição da economia linear para a circular. A ideia de que todo recurso pode ser reaproveitado e transformado é o mote da Economia Circular, conceito-base do movimento. O Movimento Circular é uma iniciativa aberta que promove espaços colaborativos com o objetivo de informar as pessoas e instituições de que um futuro sem lixo é possível a partir da educação e cultura, da adoção de novos comportamentos, da inclusão e do desenvolvimento de novos processos, produtos e atitudes. O trabalho conta com a parceria pioneira da Dow, empresa de produtos químicos, plásticos e agropecuários, com sede em Michigan, Estados Unidos. O Movimento Circular contabiliza hoje 2 milhões de pessoas impactadas por suas ativações e conteúdos.

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