05/07/2024
Economia Circular e o potencial da reciclagem das latas de aço
Por Marjourie Corrêa e Arlene Carvalho, do Movimento Circular
As latas de aço são utilizadas para armazenar diversos produtos, como alimentos, bebidas, produtos de higiene e limpeza, além de produtos químicos, como tintas - essenciais em reformas, construções e na indústria automotiva. Quando falamos dessas latas de aço, a palavra-chave é reciclagem. Desde o início de seu ciclo de vida, essas latas demonstram seu potencial, pois são 100% recicláveis e podem ser reintegradas diversas vezes ao ciclo de produção.
A Associação Brasileira de Embalagem de Aço (Abeaço) afirma que o aço é o material mais reciclável e reciclado no mundo, com mais de 385 milhões de toneladas recicladas anualmente. No Brasil, aproximadamente 200 mil toneladas de latas de aço pós-consumo são recicladas a cada ano, além de mais de 9 milhões de toneladas de aço pós-consumo que são transformadas em novos produtos. Na Europa, países como Alemanha e Bélgica reciclam mais de 90% de todas as latas de aço, enquanto, no Brasil, este índice é de cerca de 50%.
“As latas de aço podem virar qualquer outra coisa produzida com aço, inclusive novas latas! Elas podem ser recicladas várias vezes sem perda das características originais do material, permitindo a produção de novos itens com a qualidade similar. A partir deste aço reciclado, podem ser feitos diversos itens, como portas, grades de janela e outros itens de aço. Para a indústria siderúrgica, por exemplo, essas latas são um recurso valioso”, aponta o embaixador e coordenador educacional do Movimento Circular, Edson Grandisoli.
A presidente executiva da Abeaço, Thais Fagury, destaca que manter o aço dentro da cadeia da logística reversa é essencial. "Desde 2008, a Abeaço avaliou sistemas de reciclagem de latas de aço em países líderes como Alemanha, Bélgica, Suíça e Suécia, além de sistemas nacionais. Com base nessas referências, foi criado o programa ProLata de Reciclagem. Esse programa, gerido pela associação sem fins lucrativos de mesmo nome, visa a logística reversa das latas de aço pós-consumo e sua revalorização via reciclagem”.
Imagem: Thiago Egg/Movimento Circular
Reciclar, sim. Reutilizar, não?
Após o uso do produto, como é o caso das tintas, por exemplo, muita gente simplesmente as descartam no lixo comum, enquanto outros as reutilizam, transformando-as em diversos itens, como vasos de plantas, luminárias, brinquedos, peças de arte e porta-lápis. Alguns até utilizam para armazenar água ou alimentos, dependendo da situação. Mas será que a reutilização dessas latas no dia a dia pode ser feita de qualquer jeito, reduzindo a quantidade de resíduos gerados e sem gerar riscos à saúde e ao meio ambiente?
Segundo especialistas, é preciso cautela, especialmente com latas de tinta. É o que explica a gerente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati), Cindy Moreira. “Não recomendamos a reutilização de latas vazias de tintas para qualquer outra finalidade. Isso ocorre em função de possíveis problemas que possam ser provocados pelo contato do produto com a pele ou pela sua ingestão, mesmo que em pequena quantidade. Essa recomendação é ainda mais enfática nos casos de acondicionamento de alimentos e bebidas ou de plantio de espécies vegetais”.
A presidente executiva da Abeaço ressalta que um dos principais riscos está relacionado ao armazenamento de água ou alimentos por parte das populações de baixa renda. “A prática pode ser perigosa, especialmente em regiões onde a oferta de água potável é escassa, já que resíduos de tinta podem contaminar a água e alimentos, representando um risco para toda uma população”, aponta.
Em 2023, de acordo com a Abrafati, o Brasil produziu 1,871 bilhão de litros de tintas para diversos fins. No entanto, não há um dado específico que trate de quanto dessas tintas são feitas à base de água e quantas são feitas à base de solventes. Mas para o CEO da Yattó, empresa de Economia Circular e Logística Reversa, Alexandre Galana, “o mercado tem avançado na fabricação de tintas à base d'água, mesmo ainda havendo muitos materiais que possuem base solvente. O descarte correto é primordial para evitar a contaminação do solo e garantir a valorização daquela embalagem”. As tintas à base de água são menos tóxicas e emitem menos compostos orgânicos voláteis (VOCs) - o que resulta em menor impacto ambiental e menos riscos à saúde.
As latas de aço podem virar qualquer outra coisa produzida com aço, inclusive novas latas! Imagem: Reprodução/Freepik
E como descartar latas de tinta de forma correta?
Para garantir a reciclagem adequada e segura das latas de tinta, os especialistas recomendam deixar a lata em uma área ventilada para que a tinta restante seque completamente. “Se a lata ainda tiver tinta, você pode tirar a tampa e deixá-la secar naturalmente em uma área ventilada durante duas a quatro horas. Se a lata estiver completamente vazia, basta descartá-la normalmente junto com os outros recicláveis.”, explica o embaixador e coordenador pedagógico do Movimento Circular.
Programas como o ProLata de Reciclagem, da própria Abeaço, instalados em lojas de tintas e outros pontos de grande circulação, facilitam o retorno das latas para o ciclo de reciclagem. A lata vazia deve ser descartada junto com outros recicláveis, e se o seu município possuir serviços de coleta seletiva que aceitam embalagens de tinta, melhor ainda. Utilize pontos de entrega voluntária ou cooperativas de catadores legalizados para descartar suas latas de tinta.
Um outro exemplo desses programas é a parceria entre a Yattó e a Suvinil, pela qual é disponibilizada toda a infraestrutura necessária para que lojas que comercializam tintas e suas embalagens possam implementar esses pontos de entrega, recebendo resíduos de todos os consumidores do mercado que usam tintas, não apenas aqueles que frequentam a loja. Com a lata pronta para ser entregue, existem várias opções para encaminhá-la a quem vai colocá-la em condições de uso novamente.
“O programa disponibiliza toda a infraestrutura de armazenamento no local, além de materiais de comunicação para que os lojistas divulguem para seus consumidores que aquele local agora é um ponto de entrega de embalagens de tinta. Também é oferecido treinamento para que essa abordagem seja feita de maneira eficaz. A Suvinil disponibiliza materiais de comunicação digital para posicionar a loja online. A coleta é feita, o material é triado e é dada a destinação correta tanto para as embalagens quanto para as sobras de tinta. Todo esse processo é rastreado e comprovado, assegurando a destinação correta, tanto para a marca, Suvinil, quanto para o lojista que está contribuindo para uma cadeia de logística reversa e circularidade”, explica o CEO da Yattó.
Essa parceria é um exemplo de como a integração de diferentes atores no processo de reciclagem pode fortalecer a Economia Circular, garantindo que as embalagens de aço sejam recicladas de forma eficiente e segura.
Imagem: Thiago Egg/Movimento Circular
A inovação que vem da educação: Banco de tintas com força total!
Vencedor do Desafio Circular 2023, promovido pelo Movimento Circular, o Banco de Tintas, projeto realizado pela Faculdade de Tecnologia (Fatec) de Jundiaí, São Paulo, lida não com latas de aço, mas com o excedente de tintas à base de água. E eles já estão funcionando! “Recentemente, recebemos tintas no Banco de Tintas da Fatec Jundiaí e, apesar da quantidade ainda ser pequena, estamos em negociação com uma empresa de tintas para divulgar o projeto e tornar-se um ponto de coleta, além de uma fabricante de latas de tinta que demonstrou interesse”, conta a professora Ana Carolina Veredas, mentora do projeto.
A iniciativa também realizou uma ação de pintura com doações no Lar dos Idosos de Jundiaí e participou do Congresso de Logística na Fatec Jundiaí, com um stand para receber doações. Criado na cidade, o Banco de Tintas conecta doadores de tintas comerciais não utilizadas a pessoas que precisam delas, evitando o descarte inadequado e auxiliando famílias em situação de vulnerabilidade social. A comunidade pode participar doando tintas e informando suas necessidades através de um site ou aplicativo. Por enquanto, as doações podem ser entregues na Fatec Jundiaí.
A divulgação de informações sobre a reciclagem e o descarte adequado das latas de aço, especialmente as utilizadas para tintas, é fundamental para promover a circularidade. Ao destacar a importância da reciclagem e ressaltar iniciativas como o programa ProLata e parcerias entre empresas, comunidades e instituições de ensino, podemos fortalecer a Economia Circular e contribuir para um futuro mais limpo e saudável. Que tal fazer parte desse movimento e ajudar a promover a Economia Circular?
Com as doações, o Banco de Tintas realizou uma ação de pintura com doações no Lar dos Idosos e na própria Fatec de Jundiaí. Imagens: Reprodução/Banco de Tintas
Sobre o Movimento Circular
Criado em 2020, o Movimento Circular é um ecossistema colaborativo que se empenha em incentivar a transição da economia linear para a circular. A ideia de que todo recurso pode ser reaproveitado e transformado é o mote da Economia Circular, conceito-base do movimento. O Movimento Circular é uma iniciativa aberta que promove espaços colaborativos com o objetivo de informar as pessoas e instituições de que um futuro sem lixo é possível a partir da educação e cultura, da adoção de novos comportamentos, da inclusão e do desenvolvimento de novos processos, produtos e atitudes. O trabalho conta com a parceria pioneira da Dow, empresa de produtos químicos, plásticos e agropecuários, com sede em Michigan, Estados Unidos. O Movimento Circular contabiliza hoje 2 milhões de pessoas impactadas por suas ativações e conteúdos.
E você? Quer aprender mais sobre Economia Circular?
Se você tem interesse em conhecer mais sobre esse tema, acesse a Circular Academy, o primeiro curso latino-americano gratuito sobre Economia Circular voltado ao público geral. Todos nós, em parceria e colaboração, podemos fazer a diferença na construção de um planeta mais circular.
Mais notícias
Com este mesmo tema:
Economia Circular agora é norma nas empresas: conheça as diretrizes
Entenda mais sobre a importância de adotar práticas circulares para empresas que buscam sustentabilidade, inovação e resiliência, e como as normas ISO 59000 podem orientar essa transição estratégica.