
12/03/2025
Carnaval e Economia Circular: lições da maior festa popular do Brasil
A reciclagem ganha espaço numa das maiores festas populares do Brasil, mostrando que é possível celebrar com consciência, gerar renda e reduzir impactos ambientais.
Por Arlene Carvalho, do Movimento Circular
O Carnaval é sinônimo de festa, alegria e tradição no Brasil. Milhares de foliões tomam as ruas para celebrar, mas, junto com a animação, também vem um grande desafio: a grande quantidade de resíduos gerados durante os dias de folia. Em 2025, o Ano da Economia Circular, as cidades que promovem os maiores eventos carnavalescos no país investiram em soluções para lidar com esse material de forma mais resiliente.
O objetivo dessas iniciativas foi garantir a limpeza da cidade, gerar renda para trabalhadores da reciclagem, economizar recursos e reinserir materiais na cadeia produtiva. Mas, afinal, é possível tornar o Carnaval um evento verdadeiramente circular? Confira alguns números e medidas:
Rio de Janeiro (RJ) - A capital carioca implementou uma grande operação de limpeza durante o Carnaval, com a mobilização de 6.600 garis e a disponibilização de 6.271 contêineres para resíduos. Além disso, o uso de água de reuso e a aplicação de essência de eucalipto ajudaram a dar um toque especial à limpeza. Nos três dias de desfile na Sapucaí, foram recolhidas 209,6 toneladas de resíduos, sendo que 19,6 toneladas foram recicláveis.
São Paulo (SP) - São Paulo também se destacou pelo compromisso com a limpeza e a circularidade no Carnaval. Mais de 4.900 colaboradores participaram da limpeza das ruas, com um esforço para garantir que pelo menos 50% dos resíduos fossem reciclados. Durante os quatro dias de festas, a cidade retirou 322,83 toneladas de resíduos, utilizando 2.209.000 litros de água de reuso e 8.954 litros de desinfetante para limpar as vias. O trabalho intenso de fiscalização do descarte correto também contribuiu para o sucesso da operação.
Salvador (BA) - Na capital baiana, a prefeitura montou 11 centrais de reciclagem e investiu mais de R$ 2 milhões em infraestrutura e mão de obra, com 3 mil profissionais atuando diretamente na coleta de recicláveis e na organização de toda a logística de apoio. Durante o Carnaval, foram recolhidas 177,5 toneladas de materiais recicláveis, com destaque para a contribuição das cooperativas, que coletaram 112,969 kg de alumínio, 23.898 kg de PET e 32.639 kg de plástico.
Recife (PE) e Olinda (PE) - As cidades irmãs localizadas em Pernambuco também deram um grande exemplo de ações circulares durante o Carnaval. Na capital, foram recolhidas 600 toneladas de lixo, com 28 toneladas de material reciclável. Já em Olinda, o total de resíduos coletados chegou a 969 toneladas, das quais 35,5 toneladas foram recicladas, incluindo 16,94 toneladas de latinhas e 13,34 toneladas de garrafas PET. O trabalho com os catadores foi fundamental, assim como em 2023 e 2024, aumentando a renda desses trabalhadores em até 93% com os reajustes nos valores dos recicláveis. Além disso, o Galo Gigante, montado na Ponte Duarte Coelho, com 20 mil garrafas PET, tornou-se um símbolo circular do Carnaval, com materiais transformados em arte após a festa.
As latinhas de alumínio são um dos principais recipientes recolhidos na folia. Imagem: Prefeitura de Olinda
Economia Circular: do Carnaval para o dia a dia
Essas iniciativas e seus resultados são avanços importantes para a circularidade do Carnaval. No entanto, é preciso ir além, partindo do ponto que a reciclagem é apenas uma parte da Economia Circular. Para tornar a festa – e qualquer outro evento – verdadeiramente circular, é essencial repensar o consumo desde o início, adotando práticas que priorizem a redução de desperdícios, o reaproveitamento e o design de produtos mais duráveis.
O embaixador e coordenador pedagógico do Movimento Circular, Edson Grandisoli, reforça essa ideia.
“O ideal é sempre repensar, reduzir e evitar a geração de resíduos desde o início. Estamos em um momento de valorização da reciclagem, mas é fundamental que ela seja vista como um caminho importante para alcançar uma circularidade mais ampla.”
A partir de reflexões como esta, o Carnaval pode se tornar um exemplo de Economia Circular na prática, inspirando outras festas e eventos a adotarem soluções mais resilientes. Afinal, a folia é ainda melhor quando deixa um legado positivo para o meio ambiente e para a sociedade!