A forma como a humanidade vive e produz hoje em dia tem uma
característica marcante. Ela é baseada numa lógica linear: extrai
recursos da natureza, produz, usa e o que sobra vira lixo. Será que
esse sistema se sustenta no longo prazo?
Todo ano, extraímos bilhões de toneladas de recursos naturais. Só em
2019 foram mais de 90 bilhões, segundo relatório da ONU. Muitos deles
estão se esgotando. Alguns minérios, por exemplo, devem durar apenas
mais cinco ou dez anos, se continuarem sendo explorados no ritmo
atual.
E há ainda o imenso acúmulo de resíduos que se espalham pelo ambiente.
Um estudo da National Geographic estimou que em 2015 foram jogados
“fora” 70 bilhões de toneladas de resíduos, que se acumularam no solo,
nos rios e no mar. Sem falar nos Gases de Efeito Estufa (GEEs)
emitidos na atmosfera, em 2018 foram 36 bilhões de toneladas, de
acordo com o Global Carbon Project.
Além disso, ao longo de todo o processo produtivo, a mistura de
diferentes tipos de material pode gerar substâncias tóxicas para
nossa saúde e para o planeta.
Mas não precisa ser assim! Se no futuro a economia for circular, a
lógica será outra. Cada resíduo será recurso para algum outro
processo. Dessa forma resolveremos ao mesmo tempo a escassez de
recursos e o acúmulo de lixo. Já existem muitas iniciativas nesse
sentido. Siga o fluxo do infográfico para ver um pouco mais sobre essa
tendência.
No sistema linear o fluxo começa com uma entrada gigantesca de
recursos naturais e termina com uma saída monumental de lixo, muito
pouco é reaproveitado. No sistema circular, o objetivo é inverter essa
lógica, reaproveitando ao máximo os recursos que já estão em
circulação.
A ideia básica é fechar num círculo aquilo que hoje é linear: todo
resíduo precisa ser convertido em recurso para que nossos processos
passem a alimentar a si próprios.
Para isso funcionar, é necessário que os produtos sejam concebidos
desde o princípio com o objetivo de nunca se tornarem lixo. Precisamos
de um novo design que conceba as coisas não apenas para a
venda e para o uso, mas também para o que acontece depois.
Com base nessa ideia simples, é preciso que os governos, as indústrias
e as pessoas redesenhem todo o nosso sistema: a forma como produzimos,
consumimos, comemos, enfim, como vivemos.
O truque principal para que os resíduos sejam utilizados como novos
recursos é evitar a contaminação entre dois ciclos: o técnico e o
biológico.
O ciclo técnico é o dos materiais não renováveis: metal, plástico,
cerâmica, vidro e outros novos materiais. São recursos valiosos, não
deveriam virar lixo. Então a ideia é mantê-los circulando, sem
descartá-los. Os produtos devem ser feitos de forma que todos os
seus diferentes materiais sirvam a novos usos. Ou seja, eles devem
poder ser reusados, remanufaturados ou reciclados.
O ciclo biológico usa materiais que vêm da natureza e que, depois de
usados, podem ser decompostos pela ação de microrganismos. É o caso
dos restos de alimentos que, ao serem compostados, viram nutriente
para o solo. Outros produtos também podem fazer parte desse ciclo.
Quando são concebidos desta forma, cosméticos e produtos de limpeza,
por exemplo, também podem voltar para a natureza sem
contaminá-la.
Biodegradável: todo material que pode ser decomposto,
por bactérias e fungos, em água, gás carbônico e biomassa (ou seja,
nutriente). O papel, por exemplo, é biodegradável.
Compostável: para ser considerado compostável, o material, além de ser biodegradável, precisa produzir um composto indistinguível do natural e totalmente livre de contaminação de substâncias tóxicas. Papel normalmente não é compostável, restos de alimento in natura são.
Biobenigno: assim como o material compostável é mais do que biodegradável, o biobenigno é mais do que compostável. Designa aquilo que é compostável mesmo em ambientes naturais. Ou seja, não precisa que sejam criadas condições específicas para sua decomposição.
Siga o fluxo e veja algumas características da Economia Linear.
Nossa economia é baseada na extração constante de recursos naturais.
Pouquíssima matéria-prima vem do reaproveitamento dos materiais.
Minérios, florestas, petróleo, água… são recursos preciosos e
limitados que consumimos em uma velocidade maior do que sua
capacidade de regeneração.
Atualmente, poucos materiais e produtos são pensados prevendo o que
acontecerá com eles depois de descartados, para que não se tornem
lixo.
A maior parte do consumo acontece sem levar em conta o impacto
daquele produto ou do resíduo que ele gera.
Ao final, temos um volume gigantesco de resíduos espalhados pela
Terra, todos misturados, contaminando ambientes. Quase nada é
aproveitado.
O sistema circular integra diferentes etapas do sistema produtivo em
um fluxo contínuo de materiais e energia. Veja como acontece no ciclo
técnico
(à esquerda) e no ciclo biológico (à direita)
Se conseguirmos manter os materiais do ciclo técnico livres de
contaminação, eles terão inúmeras vidas, mudando de dono e de função.
E os do ciclo biológico ajudarão a alimentar e regenerar os
ecossistemas.
Veja a seguir como os materiais circulam na Economia Circular,
voltando como recurso para novos ciclos depois do uso.
Em um mundo circular, o retorno dos resíduos como recursos garante um
mundo sustentável. Para isso, tudo deve funcionar como um grande
sistema integrado voltado para a circularidade.
Em um mundo circular, o retorno dos resíduos como recursos garante um
mundo sustentável. Para isso, tudo deve funcionar como um grande
sistema integrado voltado para a circularidade.
Ilustração: Luciano Veronezi