27/07/2023
Economia Circular: qual a relação entre rótulos e circularidade?
Como parte das embalagens, os rótulos precisam ser pensados para se encaixar nos preceitos da Economia Circular
*por Aline Vieira e Arlene Carvalho, especial para o Movimento Circular
Quando você pensa na sustentabilidade com relação às embalagens, o que tem vem à mente logo de cara? Reciclagem, reaproveitamento, coleta seletiva, destino do lixo? Mas já parou para pensar nos rótulos que identificam esses produtos? Será que o processo de reciclagem para eles é o mesmo das suas respectivas embalagens? Como a elaboração desses rótulos tem relação com Economia Circular?
Para começarmos a pensar sobre isso, é interessante entender um pouco mais sobre contaminantes. Eles são agentes biológicos, físicos ou químicos que são introduzidos nos produtos de forma não intencional e podem trazer danos à saúde da população. A precaução para evitar estes agentes é rigorosa e regulada pelos governos de cada país. No Brasil, este processo é feito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para minimizar ou extinguir riscos à saúde humana e ao meio ambiente.
Os contaminantes, por exemplo, podem inviabilizar que um determinado resíduo vá para a reciclagem. Por isso, ao separar uma embalagem para este processo, é necessário observar todos os componentes dela – ou seja, é interessante prestar atenção em detalhes como selos, lacres e, inclusive, nos rótulos.
A Economia Circular nos convida a pensar em todas as fases e partes de um produto, ou seja, em como ele deve ser pensado para não gerar resíduos e na sua reciclabilidade. Os rótulos, que às vezes passam despercebidos, podem ser considerados um exemplo disso.
Um novo olhar para destrinchar a embalagem
Imagina uma embalagem de refrigerante comum feita de plástico - garrafa, tampa e rótulo. Será que todos esses componentes podem ser reciclados juntos, ou apenas parte deles? E a tinta colorida no rótulo? Será que contém alguma substância tóxica que representaria riscos à saúde e ao ambiente? A mesma preocupação se aplica a uma embalagem de shampoo, por exemplo. O rótulo é feito, muitas vezes, de um tipo de adesivo com uma cola que também requer atenção especial.
É necessário entender a circularidade dos rótulos e a necessidade de vê-los como parte de toda uma cadeia. Imagem: Pixabay
Para pensar sobre isso é necessário entender a circularidade dos rótulos e a necessidade de vê-los como parte de toda uma cadeia. O processo de reciclagem varia para cada tipo de matéria, por isso, refletir sobre tudo o que compõe cada produto, seja alimentício, farmacêutico, hospitalar, entre outros, é indispensável.
Assim como em toda e qualquer ação da nossa vida, a circularidade tem relação com a sustentabilidade e a gestão de resíduos. No caso dos rótulos, refere-se à prática de reciclar, reutilizar ou reprocessar este material, assim como toda a embalagem, de forma contínua, criando um ciclo fechado em que os materiais são mantidos em uso por mais tempo.
A ciência da produção dos rótulos
Ao invés de descartar os rótulos usados, a circularidade desses resíduos visa recuperar esses materiais e incorporá-los novamente na produção de novos rótulos ou em outros produtos. Mas, como o design dos produtos pode auxiliar nisso?
São reflexões como essas que guiam a produção da multinacional americana Avery Dennison. A empresa é conhecida por oferecer soluções de rotulagem que não impactam em diversos processos de reciclagem, impulsionando a Economia Circular.
É importante considerar o design do produto e o tipo de rótulo que ele terá. Imagem: Pixabay
“Quando se desenha uma nova embalagem sem envolver todos os processos da cadeia, corre-se o risco de escolher itens que não são adequados com o processo que a embalagem vai passar”, afirma Mariana Bortulluci, especialista em sustentabilidade da América Latina da Avery Dennison.
De acordo com Mariana, é importante considerar o design do produto e o tipo de rótulo que ele terá. “Parece que é só papel com cola, mas há uma ciência muito complexa por trás. O rótulo de um hidratante, por exemplo, está com auto adesivo, e todas as informações, mal dá para ver que é um rótulo. E ele é completamente diferente do adesivo do vinho, que é diferente do da peça de carne”, exemplifica Bortulluci.
A questão é tão importante que a empresa criou um programa exclusivo para criar conexão entre os elos da cadeia, de uma ponta a outra, unindo marcas e recicladores para encontrar novas soluções e dar nova vida a esses resíduos. O projeto é intitulado de “AD Circular” e é composto por 136 empresas de diversos portes. Com ele, a multinacional abrange também a oferta de soluções para a reciclagem dos resíduos gerados pelo uso de rótulos, transformando-os em novos produtos.
“Grandes marcas já fazem questão de pensar na embalagem, mas ainda precisam pensar nos rótulos, na decoração. Isto pode aumentar o nível de reciclabilidade da embalagem ou destruir seu potencial. Um dos casos de ciclo fechado, de Economia Circular, dentro do projeto, é visto na Natura – empresa de cosméticos. Ela realiza a reciclagem dos liners (forros) de papel e reutiliza a polpa para fabricar a caixinha dos sabonetes em barra da linha Ekos, por exemplo”, completa Bortulluci.
A Natura recicla dos liners (forros) de papel e reutiliza a polpa para fabricar a caixinha dos sabonetes em barra da linha Ekos. Imagem: Divulgação/Natura
Além de iniciativas como o AD Circular, outras ações, privadas ou públicas, podem ser implementadas para promover a circularidade do rótulo. Sistemas de coleta seletiva, utilização de materiais recicláveis, criação de parcerias com empresas de reciclagem e a conscientização dos consumidores sobre a importância da reciclagem são apenas algumas dessas ações.
Rótulos que comunicam e são circulares
Além do material do qual é feito, pensar na circularidade e sustentabilidade dos rótulos é também pensar no conteúdo principal que ele carrega – informações sobre o produto. No Brasil, a rotulagem de alimentos, por exemplo, está prestes a mudar, mas com foco em trazer informações nutricionais que indicam se aquele produto contém grandes quantidades de ingredientes como sal, gorduras, açúcar etc. Faltam informações que deixem claro como se deve fazer o seu descarte e da embalagem.
“Muitas embalagens possuem selos prometendo reciclagem e compromisso ambiental, mas nem sempre essas promessas são cumpridas. A comunicação em rótulos pode ser bem trabalhada, mas a execução nem sempre é tão bonita quanto parece”, relata Luiz Grilo, diretor institucional de Novos Negócios da Yattó - empresa que oferece soluções ESG em Economia Circular e logística reversa.
Há embalagens que são eficientes em sua comunicação. Atualmente, diversos países têm implementado seus próprios programas de rotulagem ambiental, também conhecida como rotulagem de carbono. Entre os países que adotam essa prática, podemos destacar Alemanha, Canadá, Noruega, Reino Unido, União Europeia, Estados Unidos, Japão, Austrália e Brasil. Essa abordagem visa estampar nos rótulos a pegada de carbono do produto, ou seja, o impacto que sua produção causou ao meio ambiente.
O coordenador pedagógico do Movimento Circular, Edson Grandisoli, apoia essa prática, mas defende a criação de regulamentações mais amplas que versem sobre o que o rótulo deve dizer. “Na Inglaterra, por exemplo, as garrafas de vinho que são importadas do Chile, trazem no rótulo justamente essa informação sobre o carbono. Quando você traz à luz a externalidade da produção, do transporte, do produto como um todo, isso pode influenciar nas suas escolhas de compra como consumidor? Se a resposta é sim, a gente tem que procurar criar legislações”, afirma.
Assim, fica claro que optar por materiais sustentáveis, pensar na reciclabilidade e na segurança das substâncias utilizadas são medidas importantes para tornar a Economia Circular uma realidade. Ao fazer escolhas conscientes, podemos contribuir para a preservação do planeta e seus recursos naturais, além de diminuir a quantidade de resíduos e promover um futuro mais sustentável para todos. Juntos, podemos fazer a diferença ao valorizar embalagens e rótulos que estejam alinhados com princípios de responsabilidade ambiental e circularidade.
O que é Economia Circular?
A Economia Circular propõe um novo olhar para nossa forma de produzir, consumir e descartar, a fim de otimizarmos os recursos do planeta e gerar cada vez menos resíduos. Ou seja, um modelo alternativo ao da **Economia Linear **- extrair, produzir, usar e descartar - que tem se provado cada vez mais insustentável ao longo da história.
Na Economia Circular, a meta é manter os materiais por mais tempo em circulação por meio do reaproveitamento, até que nada vire lixo! Para que esse modelo se torne uma realidade, todos nós temos um papel a desempenhar.
É um verdadeiro círculo colaborativo, que alimenta a si mesmo, e ajuda a regenerar o planeta e nossas relações.
Aprenda sobre Economia Circular
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